O diretor do FBI disse-se ontem “levemente enjoado” pela acusação de que pode ter influenciado o resultado das eleições presidenciais americanas. James Comey falou ontem pela primeira vez em público sobre a controversa decisão de anunciar que a investigação a Hillary Clinton pelo uso de um servidor privado em sua casa fora reaberta a apenas duas semanas das eleições. A investigação não resultou em nada e o Departamento de Justiça do governo Obama criticou James Comey por ter fugido às regras e revelado publicamente detalhes sobre uma investigação, que alimentou os últimos dias da campanha de Donald Trump e a ideia de que Clinton é uma política de elite que foge às regras. Comey, em declarações ao Congresso, disse ontem que não revelar a investigação teria sido ainda mais grave, uma vez que constituiria uma “ocultação”. “Na minha perspetiva, uma ocultação teria sido catastrófica”, disse aos congressistas, admitindo que soube no momento em que divulgou a investigação de que isso seria “desastroso para mim, em termos pessoais”.
Comey disse ontem que tomaria hoje a mesma decisão sobre notificar congressistas sobre o andamento da investigação a Clinton, que procurava por indícios de que a candidata, nos seus tempos de secretária de Estado, trocara informações confidenciais pelo seu servidor privado, o que é ilegal e oferece menos segurança a ataques digitais do que os servidores do Departamento de Estado. A investigação acabou por chegar ao computador de Anthony Weiner, um congressista democrata caído em desgraça e casado na altura com uma das principais conselheiras de Clinton, Huma Abedin. O diretor do FBI explicou ontem que os emails encontrados no seu computador foram, na verdade, enviados por Abedin para que ela os conseguisse imprimir. “Na verdade, o problema central com toda esta investigação aos emails era provar que as pessoas tinham alguma noção de que estavam a cometer um crime”, explicou Comey. “Esse era o nosso fardo e não fomos capazes.”
As declarações de Comey coincidiram com comentários de Hillary Clinton na terça-feira sobre os motivos que a levaram a perder as eleições. “Assumo responsabilidade pessoa em absoluto”, disse, num painel de debates em Nova Iorque. “Mas estava no curso da vitória até uma combinação da carta de Jim Comey e as fugas de informação russas e da Wikileaks suscitaram dúvidas em pessoas dispostas a votarem em mim.”