Pouco mais de um mês depois de terem sido obrigados a retirar a primeira versão da proposta de revogação e substituição do Affordable Care Act – o plano de saúde idealizado pelo ex-Presidente Barack Obama e aprovado em 2010, comummente designado de Obamacare, que atualmente abrange mais de 20 milhões de norte-americanos –, escassas horas antes da votação da mesma na câmara baixa do Congresso dos Estados Unidos, os republicanos e, particularmente, Donald Trump, conseguiram completar o primeiro passo para acabar com uma das mais emblemáticas medidas legislativas da administração anterior.
A falta de entendimento no seio da sua maioria parlamentar foi ultrapassada pelo GOP na passada quinta-feira, após uma votação renhida, mas vitoriosa, na Câmara dos Representantes. Com 217 votos a favor e 213 votos contra – todos os congressistas Democratas votaram contra, assim como duas dezenas de Republicanos – o novo American Health Care Act (AHCA) logrou assim a aprovação necessária para poder ser discutido no Senado norte-americano.
Embora arrancar o ‘sim’ dos congressistas ao fim do Obamacare tenha sido um osso duro de roer, a verdade é que essa etapa do processo sempre foi vista como a mais acessível, fruto da maioria republicana folgada nos Representantes. O verdadeiro combate travar-se-á, no entanto, na câmara alta do Capitólio. O Partido Republicano também tem ali uma maioria, é certo, mas muito ténue. Com 52 senadores conservadores e 48 democratas, Trump não poderá dar-se ao luxo de perder o apoio de mais do que dois republicanos, numa câmara composta por parlamentares bem mais céticos e desconfiados com a viabilidade do AHCA.
Uma realidade que não impediu o Presidente norte-americano de festejar a conquista junto dos congressistas republicanos. «Não tenham dúvidas, isto [a votação] é uma revogação. O Obamacare está essencialmente morto», afiançou um sorridente Donald Trump, citado pelo Washington Post, nos jardins da Casa Branca, garantindo estar «muito confiante» sobre o próximo passo da proposta, a ser tomado no Senado. Tudo porque, justificou o líder norte-americano, o caminho até aqui percorrido «uniu o Partido Republicano» e o AHCA é um «plano muito, muito bom».
O Presidente bem pode gabar o ‘Trumpcare’, mas a montanha que ainda terá de ser escalada deve-se muito à insatisfação, partilhada por diversas fações do GOP, sobre a exequibilidade do novo plano – à qual se soma um longo período de discussões internas, durante a liderança de Obama. «Uma proposta de lei – finalizada ontem [quinta-feira], que ainda não foi avaliada, não tem emendas aprovadas,e após três horas de debate – deve ser avaliada com cautela», lembrou o senador republicano Lindsey Graham no Twitter.
Entre as alterações ao plano de saúde em vigor, destaca-se a cessão de mais autonomia aos estados para decidirem exatamente o que querem incluir no seguro mínimo de saúde, acabando com a obrigatoriedade de o mesmo ter de abranger cuidados de urgência ou mesmo tratamento de doenças cancerígenas.