"Estes resultados desfazem todos os mitos”, afirma ao i a eurodeputada do BE, Marisa Matias, que esteve ao lado de Jean-Luc Mélenchon na primeira volta das presidenciais francesas.
Olhando para os votos hoje expressos pelos franceses, observa-se que 53% dos que votaram Mélenchon na primeira volta optaram agora por Emmanuel Macron, contribuindo de forma decisiva para a sua vitória.
“Em termos absolutos é a maior transferência de votos para Macron”, vinca Marisa explicando que os 70% dos apoiantes de Benoît Hamon que votaram no candidato independente correspondem a apenas 6% dos eleitores da primeira volta.
Por outro lado, “a transferência de votos de François Fillon para Emmanuel Macron ficou abaixo dos 50%”, nota a eurodeputada bloquista, para concluir que “não foi a direita que contribuiu para a derrota de Marine Le Pen”.
A análise é feita numa altura em que parece claro que “o voto por Macron não é entusiasta, não é de esperança, mas contra Le Pen”.
Começar a pensar nas legislativas
Com esse objetivo cumprido, é preciso começar a olhar para as eleições legislativas que estão a cerca de um mês. Marisa Matias recorda que Marine Le Pen conseguiu agora 11 milhões de votos e que isso vai obrigar a uma grande mobilização da esquerda.
Para já, Marisa Matias não consegue ainda perceber que efeito terão estes resultados das presidenciais nas legislativas, mas acredita que a vitória do candidato a favor da Europa e da globalização pode “ajudar a uma maior clarificação”.
Macron, enquanto ministro da Economia de Hollande, foi o autor de uma lei do trabalho para flexibilizar os despedimentos e teve forte oposição dos partidos mais à esquerda, dos sindicatos e até do grupo parlamentar do PS que se recusou a viabilizar a legislação de cunho liberal.
São essas mesmas forças que Marisa Matias acha que terão de se mobilizar fortemente nas próximas semanas para que a esquerda possa conseguir um bom resultado nas legislativas.
Mesmo satisfeita com a derrota da extrema-direita protagonizada por Le Pen, Marisa Matias acredita que as políticas liberais que Macron deve tentar aplicar a França serão uma batalha na qual a esquerda tem de se concentrar.
“Com uma vitória de Marine Le Pen teríamos uma crise imediata, com Macron teremos uma crise diferida”, acredita a bloquista.