BdP. Banca tem de ser rigorosa na concessão de novos créditos

Carlos Costa diz que Estado tem de continuar a consolidar contas e reduzir dívida e, ao mesmo tempo, deve implementar políticas de crescimento

O Banco de Portugal (BdP) voltou a chamar a atenção dos bancos para a necessidade de terem cuidado com a concessão de novos créditos, sobretudo à habitação. Segundo o organismo liderado por Carlos Costa, há o risco de as instituições financeiras aproveitarem alguma melhoria económica para assumirem maiores riscos e, consequentemente, descurarem os processos de reestruturação.

“A correta avaliação do risco inerente aos novos fluxos de crédito, quer no respeitante à capacidade de crédito dos mutuários, quer quanto ao colateral que é dado como garantia, assume particular relevância [nos créditos à habitação]. As práticas de concessão de outros créditos a particulares e às empresas deverão ser igualmente criteriosas”, refere o Banco de Portugal no Relatório de Estabilidade Financeira de junho.

Segundo o documento, é fundamental que as instituições financeiras avaliem corretamente o risco inerente aos novos créditos caso se verifiquem alterações de futuro, como um aumento das taxas de juro, em valores historicamente baixos atualmente.

Para o regulador e supervisor bancário, uma situação dessas poderá levar a problemas na capacidade dos clientes para cumprirem o serviço da dívida, sobretudo quando tanto empresas como famílias continuam com elevado endividamento.

Para o regulador, na concessão de novos empréstimos, os bancos devem ter em conta a necessidade de continuar a reduzir o montante de crédito problemático e de prosseguirem o ajustamento do modelo de negócio de estrutura de custos. Segundo os últimos dados divulgados pelo regulador, o total de crédito concedido às empresas era de 76,122 mil milhões de euros em abril, o que representava menos 7% face ao mesmo mês de 2016. Já em relação às famílias foram concedidos 124,124 mil milhões de euros no final de abril, numa queda ligeira de 1,81% em relação a abril de 2016.

Reduzir dívidas

A entidade liderada por Carlos Costa deixa ainda um recado para o Estado, cuja prioridade deve assentar no controlo de custos e na redução da dívida. Esta solução, de acordo com o BdP, irá contribuir para a diminuição do custo de financiamento tanto do Estado como das empresas. “Torna-se essencial a continuação de uma trajetória de consolidação orçamental que conduza à redução sustentada da dívida pública, contribuindo para melhorar a perceção global dos mercados financeiros em relação aos emitentes residentes”, refere o mesmo documento.

No entanto, defende que, ao mesmo tempo, sejam implementadas políticas de apoio ao crescimento e competitividade, uma vez que são “promotoras da sustentabilidade da dívida”.

O documento foi revelado no mesmo dia em que foi anunciado que o Banco Central Europeu (BCE) manteve a política de redução de compras de obrigações portuguesas. Em maio foram adquiridos 504 milhões de euros em títulos de dívida soberana nacional, o que compara com o valor de 526 milhões de euros verificado no mês anterior – uma diferença ainda mais significativa quando comparada com os 1451 milhões em maio de 2016.