“Se o PS através de António Costa podia ter dito não, a resposta também é clara e inequívoca: poderia e deveria ter dito não na altura que assinou o contrato. Não teve a coragem devida para defender o que era público”A bancada do Partido Socialista foi ontem a única que votou na Assembleia da República contra o projeto de resolução apresentado pelo Bloco de Esquerda a pedir a nacionalização imediata do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP).
O PSD, para surpresa, juntou-se ao CDS na abstenção e deixou os socialistas sozinhos do outro lado da bancada de BE, PCP e Verdes que defenderam a passagem para gestão pública de um sistema de emergência cuja gestão privada tem sido incompetente. O PAN também votou favoravelmente.
“O Estado não pode continuar a pagar e a dar lucro a privados por uma gestão que se revelou incompetente de um serviço que não serve os objetivos principais para os quais foi concebida e contratualizado”, afirmou a deputada Sandra Cunha, a quem coube a apresentação do projeto do BE.
O PS, através de José Miguel Medeiros, afirmou não ser a altura para “avançar para uma nacionalização do sistema, pelo menos no imediato”, embora sem deixar de acompanhar as preocupações manifestadas pelo BE. “Na altura própria, estaremos disponíveis para votar e aprovar aquilo que for relevante para que doravante as populações do nosso país sintam a segurança e tranquilidade necessárias sempre que acontecerem tragédias como esta”, referiu.
Pedro Filipe Soares, nas suas conclusões do debate, não poupou o PS, nem o primeiro-ministro. Embora começasse por sublinhar que o principal responsável pela contratação do SIRESP era Daniel Sanches, na altura ministro da Administração Interna de um governo PSD/CDS, o líder da bancada do BE falou depois na falta de coragem de António Costa.
“Se o PS através de António Costa podia ter dito não, a resposta também é clara e inequívoca: poderia e deveria ter dito não na altura que assinou o contrato. Não teve a coragem devida para defender o que era público”, sublinhou o deputado.
Continuando no seu ataque direto aos socialistas, Pedro Filipe Soares adiantou que, “dez anos depois, tantas trapalhadas depois, tantas intermitências depois e tantas falhas depois era de esperar que o PS tivesse aprendido a lição”.
Críticas à iniciativa
Tanto o PSD como o CDS criticaram a iniciativa do Bloco, considerando Telmo Correia que “saber se é público ou privado” o controlo do SIRESP “não é o essencial” para esta questão. Para o deputado do CDS, a questão público-privada é irrelevante, mas se é mal gerido ou bem gerido.
Mesmo assim, o vice-presidente da bancada do PSD Carlos Abreu Amorim mostrou a disponibilidade do seu partido para apoiar alguma iniciativa que vise melhorar o sistema.
Do que os dois partidos não se esqueceram foi de apontarem o dedo a António Costa, como “o rosto” do SIRESP, por ter renegociado o contrato quando era ministro da Administração Interna. “O atual contrato do SIRESP, quer queiram quer não queiram, tem um rosto, que é o do atual primeiro-ministro, o atual contrato que está em vigor tem um rosto, António Costa”, disse José Silvano, do PSD.