EUA. Obamacare sobrevive ao voto final

A maioria republicana no Senado tentou três planos diferentes numa semana, mas foi incapaz de dar a machadada final no plano de saúde de Obama. Pesada derrota para Trump. 

Sete anos e meio de intensa campanha contra o sistema de saúde criado por Barack Obama caíram ontem no fracasso – pelo menos no futuro previsível –, num voto dramático em Washington, nas primeiras horas de madrugada, em que a maioria republicana no Senado não conseguiu unir-se em torno do Plano C para revogar o Obamacare. A derrota de ontem é o mais duro golpe legislativo à maioria republicana no Congresso e à presidência de seis meses de Donald Trump, que durante a campanha eleitoral repetiu dezenas de vezes a missão de revogar o sistema de saúde do seu antecessor – apenas a construção de um muro na fronteira com o México foi mais vezes repetida.

«Três republicanos e 48 democratas desiludiram hoje o povo», escreveu Trump no Twitter, depois de John McCain, ex-candidato presidencial, antigo alvo do Presidente na campanha e a quem foi recentemente diagnosticado um cancro no cérebro, ter decidido a derrota ao recusar o terceiro plano republicano para substituir o atual sistema de saúde. O líder americano, que apoiou várias modalidades para rejeitar o sistema de saúde do seu antecessor, indicou uma vez mais que o que pretende fazer é deixar que o atual sistema entre em desvario. «Como digo desde o início, deixem o Obamacare implodir e depois negoceiem. Vão ver!».

A campanha republicana para repudiar o sistema de saúde de Obama conheceu várias encarnações apenas numa semana. A que foi rejeitada na madrugada de ontem era conhecida como o a «rejeição magra» e, na prática, anulava apenas algumas porções do atual sistema, como, por exemplo, a exigência de que cada cidadão tenha seguro, que grandes empresas garantam cuidados de saúde aos funcionários e um imposto sobre programas mais caros. Estas três alterações, ainda assim muito aquém do plano original do Partido Republicano, deixariam cerca de 16 milhões de norte-americanos sem seguro, de acordo com o Gabinete do Orçamento do Congresso, o órgão independente que avalia os impactos das legislações em debate. Os planos A e B, que caíram também por falta de consenso nos 52 senadores republicanos, queriam respetivamente anular por completo e substituir o sistema ou repudiá-lo e adiar dois anos a sua substituição. No entanto, nunca houve um plano alternativo que agradasse a ambas as linhas conservadora e mais liberal dos republicanos.

O sistema de saúde criado por Obama funciona através de um equilíbrio – consensualmente defeituoso – entre subsídios, multas e oferta mais ou menos livre de mercado na área de seguros de saúde, cujos custos aumentaram nos últimos anos. Em todo o caso, o mercado não parece em risco de «implodir». Chuck Schumer, o democrata que lidera a minoria no Senado, disse ontem que o seu partido não estava a «celebrar» e pediu acordo para corrigir defeitos no sistema atual.