Pelo menos dez pessoas morreram no domingo no Irão, depois de a polícia ter recorrido à violência para impedir protestos contra o aumento do custo de vida e a ação dos líderes políticos do país. O presidente Hassan Rouhani já avisara que as autoridades “não tolerariam” a perturbação da paz pública.
O último dia do ano foi o quarto de protestos generalizados que começaram quinta-feira na segunda cidade do Irão, Mashhad, e rapidamente se espalharam a vários pontos do país. Foi também o dia mais sangrento de todos até agora. No sábado, a informação oficial dava conta de dois mortos, no domingo, só em Tuyserkan, cidade a 300 km a sudoeste de Teerão, morreram seis pessoas quando a polícia disparou sobre a multidão. Outras duas morreram em Izeh, outra cidade no sudoeste do país.
As outras duas vítimas mortais, um delas um adolescente, foram atropeladas por um carro de bombeiros em Dorud, aparentemente roubado por manifestantes, na versão oficial. Os dois mortos de sábado, atingidos com balas, também eram de Dorud.
A violência da polícia é justificada pelo governo como reação à tentativa dos manifestantes em atacar e tentar assumir o controlo de esquadras da polícia e bases militares, mas não há nenhuma fonte independente para verificar esta informação.
Aquilo que começou na quinta-feira como um protesto contra a subida de preços dos alimentos, rapidamente se generalizou a muitos pontos do país, no maior desafio ao regime desde a revolução verde de 2009, quando milhões de iranianos ocuparam as ruas num enorme protesto político.
Aparentemente, os protestos são espontâneos e envolvem diferentes palavras de ordem. Sem líderes, nem uniformização de exigências parecem o escape por onde se liberta a tensão acumulada num país que continua sem mudanças, mas enfrenta graves problemas económicos que se refletem diretamente no quotidiano dos iranianos.
Rouhani procurou equilibrar a resposta dura da polícia com um discurso de abertura às exigências da rua. “Aqueles que danificam a propriedade pública, provocam desordem e agem ilegalmente devem responder pelas suas ações e pagar o preço por elas. Agiremos contra a violência”, disse por um lado o presidente. Por outro, referiu que os protestos “podem parecer uma ameaça, mas podem ser transformados numa oportunidade”. afirmou ontem o chefe de Estado, reeleito no princípio de 2017 com uma plataforma política reformista.
O governo bloqueou no domingo o acesso às redes sociais, para impedir que se convoquem manifestações e protestos através desses meios. E, segundo, os órgãos de comunicação públicos, mais de 200 pessoas foram detidas só em Teerão. Não havendo números para o resto do país.
O presidente dos Estados Unidos, escreveu no Twitter que “o Irão está a falhar a todos os níveis” e que chegou “a altura da mudança”. Para Donald Trump, “o grande povo iraniano tem sido reprimido durante muitos anos. Tem fome de comida e de liberdade”.
Irão. Dez mortos e mais de 200 detidos em protestos antigoverno
Foi o dia mais sangrento das manifestações que começaram na quinta e se estenderam a todo o país. No sábado já tinham morrido duas pessoas