Celebrou-se, imaginem. A grande vitória dos votos brancos e nulos contra Fernando Negrão! Uma vitória tão grande, senhores deputados, que não o impediu de ser líder parlamentar e tirar de lá Hugo Soares, cuja elegância política é idêntica à de um cachalote engripado.
O ex-líder da JSD convertido em líder de bancada do PSD, que iniciou mandato a fazer exigências ao Ministério Público que o investigava por idas a jogos de futebol, termina assim o seu semestre de protagonismo. Sai, apesar da elevada estatura, pela porta pequenina. Candidatou-se contra Fernando Negrão, não se candidatando contra Fernando Negrão. Isto é: para votar «no Hugo» muitos votaram em branco ou em nulo.
Aqui, a retrospetiva do próprio é essencial.
Primeiro, sucedeu a Luís Montenegro em eleição fora do estatutariamente previsto e sem consulta aos colegas – o que anula a hilariante tese da recente «legitimação». Meses mais tarde, apoiou Santana Lopes com vista a não perder o lugar. No dia em que Rui Rio foi eleito presidente do partido, ligou-lhe, dizendo-se disponível para qualquer decisão sua. No fim-de-semana passado, foi ao congresso dizer que «nunca» havia concordado com ele sobre a liderança parlamentar. E pudera. Rio nunca o lá quis.
Mesmo que se possa ter a maior das reservas sobre a nova direção do PSD – e eu tenho –, é preciso dizer que o grupo parlamentar esteve mal esta quinta-feira. Muito mal. A ideia de minar o indicado por Rio para a liderança parlamentar e apelar a um voto em branco ou nulo contra Fernando Negrão é errada. É prejudicial para o PSD e quem o fez não ganhou absolutamente nada com isso: nem para si, nem para o partido.
O primeiro-ministro, por outro lado, poderá ir perguntar no debate quinzenal «com qual dos grupos parlamentares do PSD» está a falar, visto que estes senhores decidiram dividi-lo ao meio e desmanchar aquela que era a maior bancada da Assembleia da República.
Trata-se, realmente, de um grande serviço patriótico e fortalecedor da Oposição a este Governo – que é aquilo que os mesmos são supostamente pagos para fazer.
Não querendo falar da hipocrisia que é fazer a Rio aquilo que tanto se acusou Rio de fazer a Passos, há que perguntar diretamente aos ansiosos: quando Luís Montenegro voltar – e é importante notar que abandona o pântano parlamentar descrito –, querem mesmo entregar-lhe um partido em ruínas? Não entendem que prejudicar o presente do PSD é danificar o PSD que pretendem no futuro? Que sabotar precocemente Rui Rio acabará por prejudicar os candidatos à sua sucessão?
Não, não entendem. Afinal, um cachalote engripado também não entenderia.
Se me perguntarem se acho que Negrão fez bem em iniciar mandato com acusações de «falta de ética» aos deputados agora seus, não, não acho. Se me perguntarem se Rio deveria ter ouvido o que os deputados que o apoiaram lhe disseram e apoiar Luís Campos Ferreira, sim, até acho. Mas sobretudo acho que um voto nulo ter significado um voto em Hugo Soares simboliza na perfeição os seis meses da sua liderança parlamentar: nula e vazia.
Um pouco como a direção do PSD para os próximos dois anos.