Por razões de intenção alheia, saudosismo natural e ambição própria, o CDS-PP é um partido em conflito com a sua mudança. Como esta coluna vem explicitando, há, entre os centristas, uma ala em exercício – favorável a menos ideologia e mais propostas como projeto, denominada «pragmática» – e uma ala em contrapeso, mais doutrinária e tradicionalista, proclamada «ideológica». Uma separação simplista dividiria ambas entre o status quo hoje liberal e os aspirantes assim conservadores. Como chapéu-de-chuva a esses rótulos, tanto uns como outros se dizem «democratas-cristãos» – assim como no PSD todos se dizem sociais-democratas.
A mim, em todo o centro-direita, a discussão parece-me dispensável, na medida em que os militantes olharão sempre para a sua ideologia como a opção pragmática, porque a tomam como a melhor, e na medida em que os eleitores olharão sempre para divisões ideológicas nos partidos como gente que se não sabe o quer para si não saberá o que quer para o país.
Entendendo a conjuntura favorável a uma afirmação que a liderança de Rui Rio proporciona a Assunção Cristas, é importante tranquilizar um partido em relação à sua candidata a primeira-ministra, que é aquilo que Cristas se assumiu no congresso do passado fim-de-semana. Junto a essa vontade, deve mostrar-se aos céticos que o CDS se encontra, neste momento, diante de um comprido corredor.
Ao fundo desse corredor, imaginam-se duas portas com dois discursos distintos: uma a dizer «direita», a outra a dizer «Governo». O ponto que desdramatiza as tensões internas perante a recente ambição é simples. Se o CDS preferir entrar na porta do discurso à «direita» é bastante evidente, no país de hoje, que não será Governo. Se o CDS escolher abrir a porta do discurso de «Governo» é também bastante evidente que não se esquecerá por isso da sua identidade à direita. Dito de outro modo: uma porta é de chave fácil e maçaneta oleada; a outra é de caminho difícil mas pode tirar o CDS do corredor por onde passeiam os partidos de nicho e dar-lhe lugar na sala onde moram os partidos de poder.
Eu, que gosto mais de andar pela rua, não arrisco sugerir qual das portas é melhor opção. Sei, todavia, que Assunção Cristas foi a Lamego com uma escolha muito clara – e não é a porta pequena. Em 2019, saberemos se dará (ou não) meia-volta de regresso ao corredor.
O maior problema do seu projeto é essa possibilidade. Assemelhá-lo a fenómenos de sucesso eleitoral como o Ciudadanos ou Emmanuel Macron, sendo outros casos de crescimento ao centro, tem algum sentido mas um problema: ainda não há sonho para vender. Macron pode prometer o sonho de uma Europa unida e Rivera pode prometer o sonho de uma Espanha unida, mas Assunção não tem um país dividido como Espanha ou com a força da França para resolver divisões europeias.
O desafio da equipa de elaboração do seu programa para as legislativas será, então, esse. Construir um sonho para o CDS que vá além de si mesmo.