Ninguém sabe ao certo, mas o líder norte-coreano, Kim Jong–un, que nunca saiu do país desde que ascendeu ao poder, pode estar por estes dias em Pequim numa visita de Estado surpresa e secreta. Não existe comunicado que o comprove e nem mesmo as atentas agências de espionagem sul-coreanas estão a par do supremo líder. Três fontes não identificadas asseguram à Bloomberg que Kim está de facto em Pequim, onde se encontrará pela primeira vez com o presidente chinês para solidificar os laços entre os dois países antes do encontro de alto risco com Donald Trump, agendado para maio. A confirmar-se, trata-se de um passo importante na diplomacia norte-coreana, que há anos vem roendo a corda chinesa que lhe garante a sobrevivência.
Os rumores de que Kim Jong–un está na capital chinesa nascem de um comboio norte-coreano. Um engenho, em todo o caso, muito característico. É verde, listado de amarelo, inigualável, enorme, muito lento por causa das carruagens altas e blindadas e que no passado transportou Kim Jong-il nas raras visitas de Estado que fez à China e Rússia. O comboio, no qual Kim Jong-un já foi filmado, chegou na segunda-feira à Estação Central de Pequim sob fortes medidas de segurança. Segundo as imagens obtidas pela televisão japonesa, quem seguia no seu interior foi recebido por uma guarda cerimonial. Vídeos publicados nas redes sociais chinesas e recolhidos pelo “New York Times” mostram uma grande coluna de carros circulando segunda-feira pelas estradas de Pequim em direção a Tiananmen.
Não é certo que Kim Jong-un esteja na capital chinesa, mas tudo indica que a comitiva norte-coreana é muito importante. A BBC afirmava esta terça-feira que a equipa pode ser liderada pela irmã de Kim, Kim Yo-jong, ou pelo líder militar da Coreia do Norte, Choe Ryong-hae. O “New York Times” afirma também que a comitiva pernoitou de segunda para terça na Casa de Hóspedes de Diaoyutai, não muito longe da Cidade Proibida, local onde no passado ficaram hospedados os líderes norte-coreanos. “Ainda não conseguimos confirmar a identidade de quem fez a viagem até Pequim”, afirmou esta terça a presidência sul-coreana, a Casa Azul, citada pela BBC. “Estamos a acompanhar com atenção o caso (…) considerando todas as possibilidades.”
Uma visita pessoal de Kim Jong–un ou da sua irmã indica que Pyongyang e Pequim pretendem alinhar as suas agendas antes de um possível encontro com Donald Trump. A visita, que o presidente americano aceitou por impulso, pode ser o culminar de uma aproximação diplomática histórica iniciada nos Jogos Olímpicos de Inverno e ao longo da qual Pequim foi um observador distante. Kim e o presidente chinês, Xi Jinping, entraram várias vezes em rota de colisão desde o começo do reinado do jovem líder coreano. Pequim, que não deseja a instabilidade causada pelos programas militares de Pyongyang, cortou recentemente nas vitais importações de carvão e aprovou os mais violentos pacotes de sanções contra o regime, que Kim parece violar a cada chance.