Uma em cada cinco pessoas tem novo episódio cardíaco no primeiro ano após enfarte

Risco mantém-se mesmo um ano após o primeiro ataque cardíaco

O 14 de fevereiro é o dia dos namorados, mas também é o Dia Nacional do Doente Coronário. Uma data que, muito a propósito, pretende apelar à sensibilização para os problemas do coração, aquele que é o órgão mais associado ao amor, e que traz tantos problemas de saúde aos portugueses.

Os avanços quer no diagnóstico quer no processo de tratamento das doenças cardíacas, nomeadamente o enfarte agudo do miocárdio (EAM) são inegáveis, mas ainda assim a taxa de reincidência de episódios cardíacos é alta.

“De acordo com a evidência científica disponível, 1 em cada 5 doentes que sobrevivem ao internamento hospitalar apresenta um novo evento (morte cardiovascular, EAM ou acidente vascular cerebral) durante o primeiro ano após EAM e 20% dos doentes sem evidência de complicações cardiovasculares no primeiro ano, sofrem um novo evento nos três anos seguintes”, afirma a cardiologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Sílvia Monteiro, que é também coordenadora da área dos Cuidados Intensivos Cardíacos da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

A diabetes, a doença renal crónica, a doença arterial periférica ou a doença arteriosclerótica – associada ao mau controlo dos fatores de risco cardiovasculares -, a uma terapêutica desadequada e o frequente abandono precoce da medicação prescrita são alguns dos fatores que aumentam o risco de um segundo evento cardíaco.

Na opinião da especialista, importa sublinhar a necessidade “de uma abordagem estruturada e integrada de prevenção secundária, com uma colaboração estreita entre a Cardiologia e a Medicina Geral e Familiar no acompanhamento do doente pós-EAM”, como forma de melhorar o prognóstico e evitar um novo ataque.

A prevenção da repetição dos eventos cardiovasculares está ainda dependente de uma terapêutica adequada, que vai além da receita da medicação apropriada.  

A cardiologista lembra que é importante que o doente assuma também o seu papel no tratamento pós enfarte e na prevenção de um segundo evento cardíaco. Ou seja é fundamental respeitar a medicação prescrita e adotar um estilo de vida saudável, que passa pela cessação tabágica, pela adoção de uma dieta equilibrada, prática de atividade física e controlo de fatores de risco, como a diabetes, pressão arterial e níveis de colesterol.

A especialista sublinha ainda  que “a informação e educação do doente coronário e das respetivas famílias são essenciais para a compreensão do evento agudo e para a gestão das expectativas de vida a longo-prazo”.

O doente, defende a médica, tem de ganhar “consciência de que o futuro depende essencialmente das escolhas feitas pelo próprio doente são fatores decisivos para gerir o medo da recorrência de eventos cardiovasculares e morte após EAM”.