Quem passa pelo Itinerário Principal 3 (IP3), que liga os distritos de Coimbra e Viseu, sabe perfeitamente os perigos que encontra.
Há anos que são pedidas obras naquela estrada e, apesar dos ‘arranjos’ realizados pela Infraestruturas de Portugal, muitos são os que defendem obras mais profundas, garantindo a segurança dos condutores.
A circular estão já várias petições pela melhoria da via e duas delas vão ser debatidas no Parlamento na próxima quarta-feira.
Uma das petições, Intervenção urgente no IP3, pela segurança, acessibilidade e desenvolvimento pertence à Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3. A outra, ‘Adoção de medidas com vista à requalificação completa e adequada do IP3’ foi criada por várias entidades, nomeadamente a Associação Empresarial da Região de Viseu (AIRV), a Associação Comercial do Distrito de Viseu (ACDV), a Associação Empresarial de Mangualde (AEM), Associação Empresarial de Lafões (AEL) e a Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões.
O objetivo é um: melhorar o acesso aos vários concelhos abrangidos por esta via, aumentando a segurança.
As expectativas estão elevadas. «Esperamos que o debate na Assembleia da República transmita um maior conhecimento para a opinião pública sobre uma região há muito abandonada pelo poder central. E que, de uma vez por todas, se traga a requalificação do IP3», disse ao SOL Álvaro Miranda, porta-voz da Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3.
A petição promovida por esta associação argumenta que já no ano 2001 se dizia que «o IP3 continua a matar» e, apesar de ter a noção de que a culpa não é apenas da estrada, é impossível ignorar «os inúmeros perigos, as imensas ratoeiras» que caracterizam o IP3.
Ponto que também é defendido pela petição criada por várias entidades do distrito de Viseu, que garante que esta «é a via rodoviária mais perigosa de Portugal» e que a requalificação «em toda a sua extensão é muito urgente».
As queixas são muitas: brechas abertas no alcatrão, abatimentos da plataforma e redução das faixas de rodagem. Falam ainda da falta de separador central na maior parte do percurso no distrito de Viseu, dos choques frontais e das vítimas da estrada, dos rails que vão sendo destruídos pelos acidentes sem serem removidos e reparados. A inexistência de faixas de aceleração e desaceleração nas entradas e saídas, a falta dos nós de ligação e cruzamentos desnivelados em alguns troços, bem como a falta de sinalização e a formação de lençóis de água quando chove são outras preocupações.
Baseado em dados dos Bombeiros Voluntários de Penacova, Álvaro Miranda conta ao SOL que só num troço de 20 quilómetros do IP3, correspondente à zona de intervenção desta corporação, desde 1991 até ao final do ano passado, foram registados 1850 acidentes que resultaram em 1866 feridos e 124 mortos. Assim, para esta associação, «há uma grande degradação em geral em todo o traçado do IP3, fruto do abandono ao longo de décadas pelos sucessivos governos». E as críticas continuam: «Há abatimentos de plataformas, pavimentos em mau estado, taludes caídos, barreiras caídas e vias suprimidas há vários anos». Nesse sentido, exigem aos governantes que «olhem para esta via e façam a requalificação do IP3, para diminuir a sinistralidade e haver uma circulação com mais segurança».
Destacam ainda como piores troços e mais exemplificativos destes casos, a zona do Botão (Coimbra), da Espinheira (Penacova) e da Livraria do Mondego (Penacova). Preocupante é também, defendem, o traçado no distrito de Viseu, nomeadamente em Tondela, onde não há separadores centrais.
‘IP3 é um caso de vergonha nacional’
Para João Cotta, presidente da direção da AIRV, uma das instituições responsáveis pela petição, «o IP3 é um caso de vergonha nacional», acrescentando que já causou «a morte a mais de duas centenas de cidadãos e limitando fortemente o desenvolvimento regional». A petição, disse o responsável ao SOL, foi uma forma de as forças vivas da região e do poder regional se mobilizarem para «colocar pressão sobre o Governo Central», defendendo que a requalificação do itinerário só acontecerá com união. «Segundo o projeto do Governo, iremos ter traçado em via dupla em 85% do trajeto. Esta requalificação não é que a região pretende mas é um passo no caminho certo», diz João Cotta.
Ver a petição chegar à Assembleia da República foi positivo. «Apenas esperamos e desejamos que esta discussão seja mais um reforço para a requalificação do IP3. Oxalá não seja uma discussão estéril», disse o presidente da AIRV, que espera que neste debate se reforce a pressão e a consciência do poder político central para a importância do IP3 requalificado. «Parece-me, no entanto, que como a região se concertou para este projeto, não iremos desistir, mesmo que o poder político se procure esquecer do assunto», promete.
O responsável estima que, no total, são mais de 200 mortos diretos nesta estrada, aos quais se acrescentam milhares de feridos. Cotta relembra ainda que todos os troços do itinerário são críticos, com principal destaque para o troço a partir do sul de Tondela.
Falta agora «concretizar as promessas feitas. A autoestrada Viseu-Coimbra foi lançada duas vezes e não começou. A 1ª fase deve começar em maio e está à espera da aprovação do Tribunal de Contas. O restante está em lançamento do projeto. Deverá estar pronta em 2022, se o pregador não mentir».
Desistir não está nos planos. «Viseu e Coimbra são as únicas capitais de distrito que não estão ligadas por uma autoestrada. Por respeito às pessoas, por motivos de coesão nacional e pela atratividade regional, não iremos desistir».
‘Ainda falta fazer tudo’
O importante agora, para Álvaro Miranda, é também que o Governo cumpra o que prometeu. «Neste momento, o que falta fazer é tudo – ainda nada teve início. Aguardamos com muita apreensão o arrancar das obras, que só pecam por tardias, tendo em conta uma via estruturante para o desenvolvimento socioeconómico de toda esta região», termina.
Além destas petições que vão então ser discutidas na próxima quarta-feira, dia 8, há muitas mais a circular sobre este tema. No total, somam quase oito mil assinaturas.
No debate que vai acontecer no Parlamento vão ser apresentadas quatro projetos de resolução do PSD, PCP, BE e PEV.