Uma grávida de 28 semanas “foi transferida com bolsa rota, a meio da noite passada, do Hospital de Portimão para o de Évora devido à incapacidade de Faro em receber prematuros” avançou, à agência Lusa, João Dias.
O secretário regional do Algarve do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) explicou que a maternidade de Faro “entrou em rutura” e já não consegue receber os prematuros transferidos de Portimão, cidade onde o serviço esteve fechado, pelo menos, entre as 9h de sábado e a mesma hora de domingo por falta de médicos para assegurar as escalas.
Segundo o médico, a falta de pediatras poderá provocar o encerramento do serviço durante 11 dias no mês de julho, 10 dias em agosto e 12 dias em setembro. Importa sublinhar que, em Faro, existem somente “seis pessoas com menos de 55 anos”, isto é, um número insuficiente para assegurar a urgência num só dia pois a Ordem dos Médicos exige que existam quatro elementos em cada turno (noite e dia), portanto, um total de oito profissionais de obstetrícia. Contudo, o dirigente esclareceu que “decorre um concurso nacional para admissão de pessoal médico para a área hospitalar, encontrando-se abertas duas vagas para pediatras”.
No site oficial do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, é possível ler que a unidade de saúde procura médicos “para desempenhar funções na Região do Algarve durante o período de verão de 2019, num modelo excecional de mobilidade temporária”, tendo sido abertas seis vagas para Ginecologia e Obstetrícia. Porém, Pediatria é a especialidade com mais falta de pessoal: são apresentadas dez vagas por preencher no Barlavento Algarvio. Apesar de Portimão estar a oferecer 50 euros por hora aos obstetras e ginecologistas, este pagamento não os convence e os serviços não ficam assegurados.
De acordo com um estudo da revista The Lancet, em 2004, nasceram 16 bebés com idade gestacional entre as 22 e aa 24 semanas; em 2010, nasceram 19 e, em 2015, este número aumentou para 36. Estes bebés necessitam de cuidados especiais como estarem inseridos numa incubadora – para manter a temperatura corporal ideal, a monitorização constante dos seus sinais vitais – a pressão arterial, os batimentos cardíacos e a respiração ou a alimentação intravenosa e as transfusões sanguíneas.
Dias adiantou ainda à Lusa que “os problemas tendem a aglomerar-se e não se perspetivam boas soluções para breve, a não ser que haja alguma intervenção por parte do ministério [da Saúde] que inverta esta situação, porque ao nível dos órgãos locais e dos profissionais tem havido um esforço enorme, porque senão o caos era ainda maior”.
É de realçar que o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) tem criticado a política de saúde do Governo naquilo que concerne a região algarvia, considerando que a mesma “volta a ser discriminada devido à não atribuição de vagas para pediatria e obstetrícia na maternidade de Portimão”.
Recorde-se que, em Beja, o cenário é ainda mais alarmante: desde o início do ano, o serviço de urgência encerrou quatro vezes devido à falta de especialistas e, em junho, um bebé nasceu numa ambulância estacionada no posto de abastecimento de Aljustrel com o auxílio dos bombeiros locais. Em Beja, há apenas cinco especialistas quando seriam necessários entre 16 a 18. À época, Jorge Roque da Cunha, presidente do SIM explicou ao jornal Público que a rutura nas maternidades “é o pão nosso de cada dia” pois “as equipas estão depauperadas”.