Trata-se de um local curioso para colocar azulejos e esta frase de Séneca, posicionada neste lugar, nas rochas, perto do mar, é muito inspiradora.
Efetivamente, quando não temos um destino, não sabemos para onde navegamos e, como tal, todos os ventos estão a desfavor, porque nenhum nos guia.
Vasco Pinto de Magalhães em Não Há Soluções, Há Caminhos, diz: «Barco sem rumo não sabe o que é vento favorável. Quando não se sabe para onde se vai, quando não se sabe o que se quer, anda-se à deriva e não se sabe o vento que ajuda nem o que desajuda. Tanta gente perdida e enganada porque vai com a moda, ao sabor do vento! E bastava ter um bom objetivo!…».
E acrescenta ainda: «Há uma pergunta que me parece essencial: movo-me por prioridades ou por emergências? Isto é: ando a correr atrás de urgências, como tantas vezes nos acontece, ou sou capaz de parar e ver o que é prioritário ser feito? Ser “bombeiro” é simpático, mas será esse o meu papel no mundo, aquela missão que a mais ninguém pertence? Podemos ter que andar a “apagar fogos”, mas que o imediato não encubra o essencial e que o contributo específico de cada um não se perca».
É muitas vezes isto que nos acontece. Corremos sem rumo, vamos fazendo o que há a fazer no imediato, somos polivalentes (palavra tão moderna!), e chegamos ao fim do dia quase sem fôlego. E isto acontece porque, por não nos impormos perante as circunstâncias da vida, deixamo-nos levar pelos condicionalismos, sem termos definido um rumo para a vida. E sem rumo não é possível, nunca, chegar a um destino. O destino só o é quando é por nós definido. Quando não é, podemos chegar a muitos lados mas esse nunca será nem nunca foi o nosso destino.
A definição de um destino na vida é, talvez, um dos aspetos mais importantes para uma vivência plena. E essa definição não implica que não aceitemos o que a vida nos reserva. Temos mesmo de aceitar que a vida é um «estado de atividade incessante» e, como tal, imprevisível e incontrolável. Só assim conseguimos viver e não sobreviver. Só aceitando a vida tal como ela é somos capazes de preparar as ferramentas (interiores) que nos permitem lidar com as dificuldades que naturalmente surgem. Ou, nas palavras de Nuno Júdice: «a vida que traz consigo as emoções e os acasos, / a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram / e dos encontros que sempre se soube que / se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com / quem e onde».
Quando idealizamos a vida e não aceitamos as suas dificuldades, acabamos por nos prejudicar, porque nos sentimos sempre vítimas de alguma conspiração cósmica destinada a derrotar-nos. Não é só a vida de cada um de nós que é difícil. É a de todos! E sem esta aceitação não é possível encarar a realidade.
Porém, ao contrário do que alguns pensam, esta aceitação não nos impede de definir metas e, mesmo, um rumo. Aliás, só com essa aceitação é possível definir um destino e, assim, perceber que ventos são a favor e que ventos são contra. Só quando olhamos para dentro de nós, não nos projetando num espelho, podemos navegar até bom porto.