Quem nunca ouviu um comentário, quase sempre negativo, sobre a dificuldade que os jovens passam na definição do seu percurso profissional, que atire a primeira pedra.
Até há algumas gerações, o critério de seleção de um qualquer percurso passava, pelo menos parcialmente, pela busca de estabilidade e da melhor relação remuneração/esforço. Essa não é a realidade de hoje. As novas gerações têm hoje aspirações profissionais bastante diferentes. Mais do que nunca, procuram significado no seu trabalho e do impacto que este tem na comunidade que os rodeia.
É hoje comum, aquando confrontados por duas oportunidades profissionais, abdicar da mais rentável por outra onde possam integrar uma comunidade, usufruir de oportunidades para viajar ou trabalhar fora do escritório, num horário flexível.
A tendência pode ser observada pelo stress associado ao processo de escolha, que pode levar à desmotivação, indecisão e falta de autoconfiança.
Tendo a acreditar que a origem deste desafio reside na combinação entre dois fatores fundamentais: as circunstâncias atuais tendo em conta a evolução tecnológica e, também, a desvirtuação da perspetiva com que este processo devia ser enfrentado.
Por um lado, o mundo mudou e as empresas têm dificuldade em acompanhá-lo. Funções descontinuadas, profissões em vias de extinção, globalização e um rápido ritmo de mudança e crescimento ditam o passo. Poucos são os empregos para a vida. Alguém ainda acredita nos empregos para a vida? São poucos os jovens que entram no mercado de trabalho com o intuito de construírem toda a sua carreira profissional na mesma empresa e serão ainda menos aqueles que, de facto, o irão fazer. Por outro lado, julgo que encaixar quem somos no que nos rodeia é também responsabilidade de cada um, independentemente da dificuldade que esta operação possa ter. Partindo de qualquer que seja o conhecimento sobre si próprio e as suas características de destaque, sou da opinião de que cabe ao jovem procurar feedback externo para validar as suas valências. Com ele, ficam melhor habilitados a experimentar e a envolverem-se em quaisquer iniciativas, dado serem estes os principais motores de autoconhecimento. É necessário combater a inércia e desenvolver, de forma contínua, ferramentas para facilitar a entrada no mercado de trabalho.
Não quero com isto dizer que a caminhada é fácil ou deva sê-lo. Se o leitor está agora ou já esteve numa situação semelhante, compreenderá tanto quanto eu que os desafios lapidam o ser, e que o próprio não seria um diamante se não tivesse sido sujeito a pressão.
As dificuldades existem e não penso que devam ser menosprezadas, dado que o seu impacto é tremendo. Está em causa o dia de amanhã ser povoado por uma comunidade feliz e eficiente, ou frustrada e insegura.
Miguel Dós