Após mais de um ano de impasse político, entre o Governo de Nicolás Maduro e o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, os Estados Unidos puseram de lado o seu apoio à pretensão de Guaidó. Washington, com o consentimento de Guaidó, propôs um Governo de transição, composto por membros dos partidos de ambos – a troco do fim das pesadas sanções sobre a Venezuela. Entre as principais exigências de Washington está a retirada de todas as tropas e oficiais de segurança estrangeiros, em particular os cubanos.
Nem Guaidó nem Maduro poderiam fazer parte desse hipotético governo de transição, composto por dois membros do partido de um, dois membros do partido de outro, e liderado por um independente, que depois não se poderia candidatar às subsequentes eleições. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, mostrou esperança de que o vencedor dessas eleições fosse o partido de Guaidó, o Vontade Popular. "Deixámos claro o tempo todo que Maduro nunca mais vai governar a Venezuela", declarou Pompeo – não ficou claro o que aconteceria se o partido de Maduro, Partido Socialista Unido da Venezuela (PSVU), de facto vencesse as eleições.
Mas os EUA não pressionam Maduro apenas com sanções: a semana passada a justiça norte-americana o acusou, e a outros elementos do aparelho de Estado, de narcotráfico e lavagem de dinheiro. Aliás, foram oferecidos 15 milhões de dólares (13,63 milhões de euros) por informações que levem à captura do Presidente venezuelano. "Espero que veja esta oportunidade como uma saída", explicou Pompeo.
Contudo, não está claro que mesmo que o Governo venezuelano cedesse ficasse insento da perseguição pela justiça norte-americana."Essencialmente, estão a dizer aos dignitários do regime de Maduro que, por um lado, não há nada que vão fazer para impedir [Departamento de Estado] dos EUA de apresentar queixa criminal contra eles, enquanto, por outro lado, estão a pedir-lhe para concordar com um Governo de transição", criticou Eliott Engel, líder dos democratas no comité para os Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes
Qual a probabilidade de Maduro aceitar a oferta de transição? "Nenhuma", assegurou o ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano, Jorge Arreaza, em entrevista à rádio colombiana Blu Radio, horas antes da oferta de Washington. É que as decisões na Venezuela "tomam-se em Caracas, no Palácio Miraflores, sob a Constituição venezuelana", declarou. Contudo, a recusa do Governo venezuelano, ao que parece ser uma concessão dos EUA, poderá enfraquecer ainda mais o seu estatuto internacional, quando muitos países, incluindo os países europeus, já reconhecem Guaidó como chefe de Estado interino.