Responsabilidade e coerência na formação

Se o teletrabalho e o estudo à distância vão ser uma realidade, deve ser assumida uma postura por parte dos intervenientes no processo de formação e adaptação dos recursos humanos.

Os gigantes tecnológicos parecem liderar a redefinição e reformulação do espaço e horário de trabalho.

As notícias mais recentes dos movimentos públicos destes, como são o caso de Twitter, Amazon, Google e Microsoft, dão conta da oferta aos seus colaboradores da possibilidade de permanecerem em teletrabalho para além do período de quarentena, sempre que as suas funções a uma presença física não obriguem.

Analisando historicamente, tal como não aconteceram até hoje, que não tenham sido forçadas pela circunstância, grandes alterações ao espaço e estrutura de ensino ou sala de aula por parte das instituições, também não o parece ter acontecido nos locais de trabalho que se enquadrem no contexto ocupacional de obrigatoriedade presencial ou deslocação frequente, como é o caso dos comerciais. Quer isto dizer que, estes deixam de ser adequados às necessidades reais, tanto dos colaboradores, como dos próprios empregadores. Na medida em que os colaboradores, principalmente os mais jovens, valorizam crescentemente a flexibilidade de espaço e horário de trabalho, também os seus empregadores, julgo, pretendam captar e reter talento, através da oferta dessas mesmas componentes. Contudo, tais medidas requerem cuidados.

Colocar nas mãos e ao critério de um indivíduo a gestão da sua vida e contributo profissional é também depositar nele a confiança na sua agilidade, responsabilidade e gestão de tempo ou tarefas. Requer-se, portanto, da iniciativa de qualquer atual trabalhador ou estudante, ou das instituições de ensino que os formam, respetivamente o treino e aplicação das capacidades requeridas e a incorporação e adaptação dos planos de estudo para que se adequem às reais necessidades não só do curto mas, em especial, do médio e longo prazos: soft skills, em especial o foco, a gestão emocional (disciplina e auto motivação), empatia, gestão de tempo e gestão de prioridades. Consequentemente, sou da opinião de que não está em falta tanta matéria-prima humana, no que a capacidades diz respeito, quanto penso que esteja na coerência dos métodos de aprendizagem, autodidata ou institucional.

É certo que mudanças desta natureza na dinâmica de uma qualquer empresa acarretam desafios para além da análise individual. Uma empresa terá de ser capaz, via líderes, de encontrar estratégias que promovam e mantenham a coesão do coletivo e de readaptar a sua cultura e valores caso necessário, para que os seus quadros se mantenham coesos, não alienados do dia-a-dia e operações.

Se de facto o teletrabalho e estudo à distância são e vão ser, cada vez mais, uma realidade no tecido empresarial e estudantil respetivamente, sou da opinião de que deve ser assumida uma postura por parte dos vários intervenientes do processo de formação e adaptação dos recursos humanos do país coerente com as necessidades e responsabilidades que a mudança requer. Unam-se os incentivos, pois o futuro pode bem ser mais extraordinário.