Os ecrãs têm sido inundados por imagens de revolta e protestos contra o racismo. Infelizmente, a desigualdade ainda se encontra presente nas nossas vidas.
O economista francês Thomas Piketty defende na sua obra que as desigualdades têm origem na diferença entre os rendimentos do trabalho e os do capital, sendo os segundos crescentes e superiores aos primeiros. Quer isto dizer que alguém que vende o seu tempo a troco de um rendimento não só ganha menos do que alguém que investe as suas posses, como a cada ano que passa, essa diferença é maior.
Infelizmente, para a esmagadora maioria das famílias, a qualidade da formação profissional dos jovens tende a estar diretamente relacionada com a disposição e capacidade dos pais para a pagar.
Desigualdade económica tende a gerar assimetria de conhecimentos. Por isso, Piketty propõe como uma das medidas para combater essas mesmas desigualdades melhorar-se o acesso à informação e formação, tornando-o o mais igualitário possível, para que os rendimentos dos seus parentes ou o absoluto mérito académico não sejam os únicos fatores determinantes da possibilidade de se ter uma formação de qualidade.
Não só concordo com a posição do economista, como acho que cada vez há melhores condições para que se implementem as medidas necessárias para acabar com os infoexcluídos (talvez via expansão do acesso à internet, nos países com os casos mais extremos). Sou da opinião de que no caso de Portugal, e no de muitos países ditos ‘mais desenvolvidos’, boa parte dessa desigualdade se prenda com falta de auto consciência e autoconhecimento. Ou seja, não acho que (para a maior parte das realidades das famílias) o acesso à informação e formação seja dificultado. Acho sim, que existe uma discrepância grande ao nível de acessibilidade às oportunidades de trabalho e outras.
Julgo que o autoconhecimento profissional seja relativamente proporcional à quantidade e qualidade das experiências, profissionais, académicas ou pessoais, que colocam qualquer individuo em situações de exposição a diferentes desafios e ambientes, a partir dos quais um ser pode enquadrar melhor a sua proposta de valor e capacidades, com aquilo que são as necessidades do mercado.
Momentos como os que se vivem hoje, nos quais George Floyd e tantos outros ainda sofrem as consequências da desigualdade, é importante que se manifestem pacificamente as vontades que dizem respeito à dignidade humana.
Se o leitor acreditar, como eu acredito, que as coisas podem mudar, apoie a diversificação e experimentação profissional dos seus, pares ou parentes, por ser um bom substituto dos recursos financeiros que nem todos podem despender, mas através da qual todos podem crescer.
Desigualdades tornam-se ‘pequenas’ ao pé de uma comunidade, qualquer que seja, que tenha como valor primordial a dignidade humana e que incentive a descoberta daquilo que cada um, de criança a idoso, tem de melhor para oferecer.