É evidente que as características generalistas mas diferenciadoras das últimas gerações prestes a entrar no mercado de trabalho, ou recentemente absorvidas pelo mesmo, não agradam unanimemente a uma parte significativa dos atuais e futuros empregadores. Acredito que tal se deve a uma clara diferença de valores e circunstância.
De entre os muitos valores que as gerações dos nossos pais ou avós apresentam, destaco o compromisso, a honra, a paciência, a perseverança e a capacidade de sacrifício, que julgo contrastarem hoje, não necessariamente num mau sentido, com a inerente necessidade de maior flexibilidade horária e espacial, e a busca por uma maior diversidade de conhecimento e experiências.
Para além disso, o mundo mudou. A sociedade é hoje mais global e competitiva. A tecnologia atinge diariamente picos recorde de utilização, inovação e influência direta sem precedentes na vida das pessoas.
Concordo que a frequente libertação de dopamina da ‘excitação’ do meio tecnológico pode abalar a capacidade de um qualquer indivíduo adiar o ‘prazer’ e felicidade a troco de um retorno maior no futuro, em detrimento do momentâneo. Por essa razão, pode ser mais impaciente, mas não é por esse motivo que tem menos valor a acrescentar.
Tendencialmente, os jovens estudantes ou trabalhadores podem não ser tão pacientes ou mesmo sequer comprometidos com algo que não favoreça o seu bem estar e, julgo, em muitos casos, bem. Não existem hoje grandes razões para o conformismo que não decisão própria. Porém, estes mesmos jovens são dotados de uma formação e especialização como nenhuma antes, fazendo destes diamantes em bruto, à espera de serem lapidados pela experiência de quem hoje assume as posições dos líderes do amanhã.
Diariamente, os jovens têm um acesso facilitado a informação e um conforto natural perante o uso de tecnologia e ferramentas de inovação. Isso faz de nós, e dos nossos possíveis percursos profissionais, mais competitivos, rápidos e interconectados do que quaisquer outras gerações. A necessidade e busca por mobilidade, seja de que natureza for, a par da tendência plástica e disforme do mercado de trabalho, oferece desafios e convida os empregadores a recorrerem a uma maior agilidade corporativa (requisito para inovação). A possibilidade de delegar e encarregar colaboradores jovens a funções novas não previamente existentes, temporárias, abstratas, ou ainda por compreender/definir é uma vantagem significativa que não julgo ter um custo de oportunidade tal que justifique desperdiçá-la.
Costuma dizer-se que um mesmo indivíduo não vai a um qualquer rio duas vezes. Tal deve-se ao facto de nem o indivíduo ser o mesmo, por estar em constante mutação, nem o rio ser o mesmo, porque as ‘águas’ que correm agora não são as mesmas. Por isso, proponho que nos deixemos de acender velinhas para que volte o ‘antigamente’ ou se rogue pragas à juventude, e que se constate objetivamente a realidade: os jovens têm muito valor, mas este não toma a mesma forma que o valor das gerações mais maduras.