O Novo Banco viu-se envolvido em mais uma polémica. Desta vez, o banco terá vendido a seguradora GNB Vida com um desconto de quase 70% em outubro a fundos geridos pela Apax. A notícia, avançada pelo Público, diz que esta operação significou uma perda de 268,2 milhões, ‘compensada’ pelo Fundo de Resolução.
No entanto, os principais visados nesta operação – o Novo Banco, o Fundo de Resolução e o supervisor português dos seguros e fundos de pensões (ASF) – apressaram-se a justificar e a negar a notícia.
A instituição liderada por António Ramalho garante que «o preço final da transação foi o melhor e resultou de um processo organizado de venda, competitivo e transparente, com o acordo do Fundo de Resolução, em que o comprador obteve idoneidade por parte da ASF». E também a ASF garante que que não observou nenhuma ligação entre os compradores da GNB Vida, seguradora do Novo Banco, e Greg Lindberg, gestor acusado de corrupção nos Estados Unidos.
Ao SOL, Pedro Amorim, analista da corretora Infinox, defende que «os dados e conclusões divulgados nos últimos meses mostram que a resolução do BES foi um processo apelidado de ‘um atestado de incompetência passado ao país’, que envergonha a capacidade de gestão portuguesa e uma prova de que o Banco de Portugal não está a fazer o seu papel há muito». E atira: «A falta de controlo ou fiscalização por parte da atividade do Novo Banco, se existe, então pergunte-se quem são».
O analista não tem dúvidas de que serão divulgados mais «negócios ruinosos» do Novo Banco, «que correspondem a um desmantelamento ao desbarato do antigo BES». «Seria muito difícil afirmar, mas acho que a nível mundial nunca se viu uma coisa assim», diz. No seu entender, o maior erro foi a venda à Lone Star, «uma empresa não financeira em que a sua principal atividade é vender ativos de empresas falidas. Se a venda tivesse a responsabilidade do BCE, nada disto teria acontecido».
Valor justo?
A verdade é que o Novo Banco teria de vender a seguradora GNB Vida – agora intitulada Gamalife – até 31 de dezembro do ano passado e o Fundo de Resolução, também em esclarecimento, garante que aquele seria o valor do mercado no momento. «Na avaliação do Fundo de Resolução, o valor da venda correspondeu ao valor da melhor oferta recebida na sequência de um processo de venda aberto e competitivo e reflete, portanto, o valor de mercado, naquele momento, do ativo em causa», diz esta entidade do Banco de Portugal (BdP) e que detém 25% do Novo Banco.
O analista da Infinox diz ao SOLnão conseguir ver «coerência nestes acontecimentos». «O valor da venda de uma empresa/entidade ronda normalmente entre os 70-120% dos seus ativos (o seu balanço). Nunca vi uma empresa a ser vendida com um desconto de 68,5% do valor do seu balanço na Europa», refere. Por isso, na sua opinião, só poderão existir duas justificações: «Ou a contabilidade estava mal feita, ou foi mais um atestado que o Novo Banco e o Banco de Portugal têm vindo a passar a todos os portugueses», diz, relembrando outros casos, como a Tranquilidade, que foi vendida «a um desconto exorbitante». A solução seria simples: «O processo de venda dos ativos deveria ter um controlo maior, com alguém verdadeiramente capacitado para avaliar vendas de ativos».
Auditoria deve ser acelerada
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu à notícia e defendeu que a auditoria ao Novo Banco se fizesse o mais depressa possível, o que também é um desejo do Governo. Pedro Amorim concorda: «Todas as áreas de negócio do Novo Banco deveriam de ser auditadas com o objetivo de chegar uma conclusão: Ter uma marca nova, valeu a pena? Pelo que são os resultados, os rácios de produtividade caíram a pique desde a resolução».
Questionado sobre se a ideia de nacionalização não poderá voltar a estar em cima da mesa e se esta não seria a melhor solução, o analista da Infinox defende que «a retirada da Lone Star deve ser considerada, porque pouco ou nada veio acrescentar para um banco importante para as PMEs portuguesas».