O setor da Saúde recebeu mais de 3.000 reclamações por parte da população portuguesa desde o início da pandemia, em março, até ao dia 14 de setembro, de acordo com um estudo analítico do Portal da Queixa. Este número representa um aumento bastante significativo comparativamente ao período homólogo, onde ocorreram 1.703 queixas. As 3.012 reclamações vão desde "a dificuldade de marcação de consulta ao mau atendimento, da faturação errada às taxas dos kits de proteção", de acordo com um comunicado do Portal enviado às redações.
De acordo com o estudo, as farmácias, os hospitais públicos, os centros de saúde o os hospitais privados são as entidades que receberam mais reclamações por parte dos portugueses. O setor privado regista 58% do total de reclamações (1734), e o setor público regista 42% (1278 queixas).
No setor público, as farmácias receberam diversas queixas mas a principal deveu-se à venda de máscaras (58%), que, de acordo com os clientes, foi um produto cuja encomenda demorava bastante a ser entregue e era muito escasso. Depois das máscaras, segue-se o "exponencial aumento dos preços praticados do álcool gel desinfetante", que geraram 37% das reclamações. Nos centros de saúde a maior queixa por parte dos portugueses foi a dificuldade em conseguir marcar consultas (56% das queixas). Já no que toca aos hospitais, o mau atendimento e o serviço prestado foi a maior queixa por parte da população sobre estas instituições.
O Portal da Queixa identificou que os distritos em que os portugueses mais reclamaram sobre o setor público foram Lisboa (37%), Porto(17%) e Setúbal (12%).
Já no setor privado, no que toca a hospitais e clínicas privadas, a faturação errada de valores indevidos (43%) foi a maior reclamação por parte dos consumidores. Também a cobrança de taxas de kits de proteção Covid-19 foi motivo de 23% das reclamações e o alegado mau atendimento foi responsável por 12%. Nos laboratórios de análises clínicas, 27% das queixas estão relacionadas com os rastreio à covid-19.
O Portal da Queixa identificou que os distritos em que os portugueses mais reclamaram do setor privado de Saúde foram Lisboa (37%), Porto (25%), Braga (9%) e Setúbal (9%).
Pedro Lourenço, CEO do Portal da Queixa e fundador da Consumers Trust, não se mostrou surpreendido com o aumento do número de reclamações no setor da Saúde por parte dos Portugueses. Sobre o SNS, o responsável afirma que este "continua a registar taxas de insatisfação muito elevadas de ano para ano, não demonstrando melhorias contínuas no serviço prestado".
Apesar de se verificar uma redução do número de reclamações nos canais do estado, nomeadamente no Livro Amarelo e de Reclamações, tal não é um espelho exato da realidade, de acordo com Pedro Lourenço. "No Portal da Queixa este crescimento é demais evidente, demostrando não só que os utentes do SNS estão descontentes com o serviço prestado, como também pela desacreditação no regulador, que manifestamente não traduz confiança na resolução dos problemas apresentados", afirma o mesmo.
Sobre o setor privado, Pedro Lourenço aponta que esta "continua a não ser uma alternativa viável para a maioria das famílias portuguesas, devido à cobrança de "valores exagerados na faturação pós-prestação do serviço", aponta.