Os idosos precisam de nós:«Com as visitas dos familiares aos utentes novamente suspensas por indicação médica devido ao agravamento da situação pandémica do concelho, a Misericórdia da Figueira da Foz decidiu recuperar as visitas por grua, que tanto sucesso fizeram na primeira vaga da pandemia da covid-19. A grua vai funcionar todos os dias, a partir das 14h30. Os interessados devem fazer a sua marcação, atempadamente, junto à Misericórdia – Obra da Figueira».
Existe algo mais bonito que isto? Tudo o que possamos fazer, tudo o que possamos fazer!
Nunca ignorei nenhum pormenor que me passava pelo olhar. Em criança já observava aquilo que podia aprender no almoço ao domingo, em casa do meu avô paterno. Era muito pequena. Lembro-me da trepadeira que comia a entrada da porta e que a porta se abria para um almoço de conversas alegres. Do meu avô Alberto, lembro-me do sorriso fácil. Lembro-me sempre que da idade provinha a educação, sabedoria e bondade. Do meu avô materno recordo as visitas à minha casa de infância saída de um filme dos Flinstones, da sua alegria de me ver e de trazer sempre atrás das costas, um religioso pacote de gomas.
As minhas avós, que faziam ambas anos no mesmo dia eram polos opostos. A minha avó materna passou muito tempo comigo, quando era eu mais velha, almoçava comigo às quartas e passava comigo alguns fins de semana, onde fazíamos serões de filmes de terror. A minha avó paterna juntava a família no natal, lembro-me de adorar o norte e de entrar na estrada da quinta, com uma grande árvore que tinha sido moldada por um raio e estar ansiosa por começar todo o ritual que a minha avó tão bem sabia preparar: A broa, a truta salmonada e as farófias. E a sua personalidade tão bem vincada formava o ritmo da família inteira. A verdade é que vivi e guardei mas acima de tudo aprendi a respeitar a beleza da idade! Infelizmente era muito pequena quando os meus dois avôs morreram, mas fui das últimas pessoas que as minhas avós viram antes da sua morte. Quando passei de carro, pelas redondezas de onde vivo, estava sentado de perna cruzada, sem ninguém à sua volta, um nobre senhor isolado, de boina na cabeça e de máscara bem posta na cara, que me lembrou os meus avós. Não pude deixar de pensar, quando troquei olhar com ele e toda a sua nobreza se sentia alguma serenidade pela companhia do mar, que tinha à sua frente. Ou se sentia uma tremenda solidão demasiado pesada para carregar? Acenei e ele acenou-me de volta.
Nestes tempos de pandemia, vi um enorme desrespeito e relutância em usar algo que protege aqueles que tanto admiro. No entanto, não é isso que quero lembrar. É mesmo o senhor sentado no banco acastanhado, com as calças cor de vinho e as meias de xadrez com a máscara posta e os olhos agarrados ao infinito do mar!