O cenário à chegada ao posto de combustível mais próximo piora para os consumidores a cada segunda-feira. Tem sido essa, pelo menos, a tendência a que se assiste desde o início do ano – o preço dos combustíveis não pára de aumentar em Portugal. Feitas as contas, o preço do litro da gasolina já cresceu 11 cêntimos em termos absolutos (+8%) em 2021; por sua vez, o gasóleo aumentou 9,1 cêntimos (+7%). As conclusões são evidentes: nas nove primeiras semanas do ano, o preço da gasolina subiu sempre, entre 0,3 a 1,9 cêntimos por semana; o gasóleo acompanhou a tendência, mas, neste caso, com a exceção isolada da primeira semana de fevereiro, quando os preços desceram. E se quisermos recuar um pouco mais, concluímos que as subidas fazem-se sentir – com a tal variação descendente já referida – há 17 semanas consecutivas.
Depois de um mês de janeiro com o preço dos combustíveis sempre a subir, a situação do ponto de vista do consumidor agravou-se ainda mais em fevereiro, com uma valorização em força destes ativos que permitiu bater recordes com dois e três anos. A subida parece, porém, estar ainda longe do zénite. Na última segunda-feira, primeiro dia de março, quem opta por veículos com motor a combustão lá teve de voltar a abrir um pouco mais os cordões à bolsa. Para já, ninguém arrisca até onde podem chegar estes valores. E a maioria simplesmente vive a vida sem fazer contas ao assunto: afinal, o automóvel (ou qualquer outro veículo do género) ainda é um bem que parte significativa da população portuguesa não quer ou simplesmente não pode dispensar.
No topo da tabela dos preços altos Em fevereiro, o preço da gasolina simples 95 aumentou seis cêntimos nos postos de combustível em Portugal. Esta foi, aliás, a maior subida mensal deste ativo desde maio de 2018. Já o preço do gasóleo simples cresceu 5,5 cêntimos por litro, o que representa a maior subida mensal desde janeiro de 2019. Mas vamos a contas.
A 22 de fevereiro de 2021, última contagem do segundo mês do ano, a gasolina 95 custava, em média, em Portugal 1,541 euros por litro; no mesmo período, o gasóleo simples custava 1,386, segundo dados publicado pela Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE). Pegando nesta data e no exemplo da gasolina, para efeitos de comparação, chega-se à conclusão que neste período a gasolina, o combustível favorito dos consumidores portugueses – depois de o número de veículos a motor alimentado a gasolina ter, finalmente, ultrapassado em 2019, ao fim de 15 anos, os carros que funcionam a diesel, de acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA na sigla em inglês) –, superava a barreira dos 1,5 euros por litro, algo que não acontecia há precisamente um ano.
Passando os olhos pelo mapa da União Europeia a 27 (mas incluindo ainda o Reino Unido e a Suíça), é possível verificar que, nesta data, Portugal tinha a quarta gasolina mais cara da União Europeia, apenas atrás dos Países Baixos (onde a gasolina custava, por esta altura, 1,674 euros por litro), da Dinamarca (1,575 euros por litro) e da Grécia (1,557 euros por litro). E, neste caso, falta ainda contabilizar o último aumento registado em março, que deverá ser publicado pela ENSE nas próximas horas, e que deverá confirmar uma subida na ordem dos 1,1 cêntimos no preço do litro da gasolina e de 1,3 cêntimos no do gasóleo.
Desigualdades pela europa fora O tema é e sempre foi relevante… e polémico. Nesta fase, porém, de crise económica e social à escala global, no âmbito da pandemia, o tema ganhou interesse e importância renovadas – e relevância no quotidiano dos cidadãos.
O salário mínimo em Portugal é, desde 1 de janeiro, de 665 euros brutos. O salário médio estimado por várias instituições estatísticas e financeiras portuguesas e internacionais é de 1.418 euros em 2021. Fazer frente ao preço dos combustíveis é, pois, para os portugueses, tarefa pesada, se compararmos com as condições em que funciona a economia e o mercado noutros países bem próximos. Como, por exemplo, na vizinha Espanha.
É, aliás, um clássico da fronteira. O salário mínimo de nuestros hermanos é atualmente de 950 euros; a remuneração média estimada para 2021 é de 2.279 euros. E o preço médio da gasolina registado naquele país a 22 de fevereiro passado era de apenas 1,269 euros por litro. Por vezes mais, mas muitas vezes, na raia espanhola, com Portugal à vista, ainda menos. O caso de Espanha é, pela proximidade territorial, paradigmático destas desigualdades.
Mas se formos mais além, as diferenças podem ser ainda maiores. Os Países Baixos têm a gasolina mais cara, mas o salário mínimo mensal no país não é sequer comparável com aquele que se pratica em português: 1.684,80 euros. Por outro lado, o ordenado médio estimado é de 2.855 euros para este ano, o que permite, à partida, concluir que o poder de compra dos holandeses permite, sem as dores de cabeça vividas a sul, enfrentar com menor preocupação as pistolas de onde jorram os combustíveis.
No Luxemburgo, o país com o salário mínimo legal mais elevado (2.201 euros por mês), o preço da gasolina é de 1,222 euros por litro. O ordenado médio estimado é, por sua vez, de 5.143 euros. Na Suíça, onde não existe salário mínimo nacional – embora a cidade de Genebra tenha estabelecido uma remuneração mínima legal no valor de 3.812 euros –, o preço da gasolina é de 1,349 euros por litro. Aqui, regista-se o maior salário médio estimado da Europa: 6.030 euros mensais. Em ambos os casos, ir ao posto de combustível não é certamente matéria relevante ou polémica.
A situação de Portugal neste capítulo só encontra semelhanças com a Grécia. O ordenado mínimo helénico é de 650 euros e o médio de 1060 euros em 2021. Os rendimentos baixos, inferiores aos praticados por cá, penalizam a população daquele país, que compra gasolina ao preço de 1,557 euros por litro, ao nível do que acontece em Portugal. À escala europeia, apenas na Bulgária é possível encontrar gasolina inferior a um euro: 0,965 euros por litro; mas, neste caso, o poder de compra da população é significativamente mais baixo do que em Portugal ou na Grécia. Embora o ordenado mínimo búlgaro seja de 332 euros, o ordenado médio estimado para este ano fica-se pelos 690 por mês.
Outro elemento que confirma as desigualdades no preço dos combustíveis verifica-se com o preço do gás de garrafa. Em Portugal a botija custa 26 euros aos consumidores. Em Espanha, mesmo aqui ao lado, a diferença é brutal. O preço do gás de garrafa é de apenas 13 euros do outro lado da fronteira terrestre.
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