Infeções respiratórias típicas do outono/inverno, e que no último ano tiveram menor manifestação, têm estado a aparecer mais nas últimas semanas. São geralmente quadros de constipação comuns, com sintomas parecidos com os da covid-19, mas levaram o Instituto Ricardo Jorge a prolongar a publicação do boletim de vigilância epidemiológica da Gripe e de outros Vírus Respiratórios, que geralmente cessa nesta altura do ano. Em causa estão vírus em particular do grupo dos Picornavírus e Vírus Sincicial Respiratório, que costuma dar o nariz ranhoso às crianças no inverno, as viroses que os pais conhecem na ida para as creches. No entanto, em pessoas mais vulneráveis – crianças mas também idosos –, podem levar a quadros mais graves e a necessitar de tratamento hospitalar.
Ao Nascer do SOL, o Instituto Ricardo Jorge explicou que os vírus respiratórios têm habitualmente uma atividade epidémica sazonal. «Apesar de mais frequentes nesse período, podem circular de forma esporádica durante todo o ano».
A tendência crescente que se tem verificado já escapa a esse padrão, o que leva o INSA a admitir que «não é frequente» e que pode ser explicada por ter havido menor circulação no último outono/inverno e haver agora uma redução das medidas de distanciamento, «que podem proporcionar maior número de contactos e transmissão das infeções respiratórias virais. O aparecimento de outros vírus respiratórios em países do hemisfério norte e a mobilidade das populações, após período de confinamento, suporta também o aumento de casos que observámos em Portugal nas últimas semanas».
O aumento de infeções respiratórias comuns no outono/inverno tem sido reportado noutros países, dos EUA à Europa. Em Inglaterra, já houve apelos aos pais para estarem atentos a estes sintomas. Yvonne Doyle, da agência de saúde pública britânica, Public Health England, chamou a atenção para pais com crianças com menos de dois anos, em maior risco de infeções mais graves. Segundo a imprensa inglesa, o serviço nacional de saúde inglês começou a preparar-se para o possível aumento de doença respiratória em idade pediátrica em abril.
Também no Reino Unido, houve um alerta para o aumento de casos de gastroenterites causadas por norovírus, com o aumento de surtos, que também têm sido relacionados pelos médicos com o aumento da socialização, menor distanciamento, higiene e uso de máscaras depois de meses de restrições mais apertadas. Questionado pelo Nascer do SOL, o INSA explicou que este vírus não se transmite por gotículas a tossir e a falar, mas através de superfície contaminadas e o diagnóstico é realizado no Laboratório de referência para as infeções gastrintestinais do Departamento de Doenças Infecciosas do INSA, não tendo fornecido dados sobre se há ou não também mais casos. Até ao momento, não houve nenhum alerta à população nesse sentido.
Máscaras até à primavera
O próximo inverno é, em grande medida, ainda uma incógnita. Na reunião do Infarmed, apurou o Nascer do SOL, vai haver uma apresentação sobre as perspetivas, aguardando-se os planos sobre vacinação contra a gripe e a preparação dos serviços de saúde.
Na Alemanha, o Robert Koch Institute (RKI), equivalente ao Instituto Ricardo Jorge, admitiu que pode haver um recrudescimento das infeções e recomendou o planeamento dos próximos meses, defendendo também o uso de máscara em espaços fechados, como transportes, até à primavera de 2022.