Um “aumento expressivo” da população idosa. Não é surpresa, mas a conclusão dos Censos de 2021 vai além do que se antecipava para este ano nas projeções a longo prazo sobre o futuro da população portuguesa, condenada a encolher, com menos crianças a nascer, dependente dos fluxos migratórios para equilibrar a população ativa (e nos últimos anos uma parte significativa dos nascimentos) e a colher o fruto do aumento da esperança de vida nas últimas décadas.
Por cada 100 jovens há agora 182 idosos em Portugal, concluiu o Instituto Nacional de Estatística, que depois de os Censos terem sido feitos pela primeira vez online conseguiu antecipar em dois meses a divulgação dos resultados provisórios que dão um primeiro olhar sobre a estrutura da população portuguesa e edificado dez anos após o último recenseamento.
Com a quebra de nascimentos dos últimos anos e o aumento da mortalidade, em particular no último ano de pandemia, que agravou o saldo natural, a população portuguesa diminuiu pela primeira vez desde a saída em massa de emigrantes na década de 1960.
Já era esperado que viesse a acontecer, mas as projeções do INE no cenário central eram de que em 2025 fôssemos ainda 10,4 milhões de habitantes e já somos menos: Portugal contava com 10 344 802 habitantes em abril, menos 217 mil do que há dez anos.
A estimativa é de que a população portuguesa fique pela primeira vez abaixo dos 10 milhões de habitantes em 2042, o que a este ritmo poderá acontecer mais cedo – e a diminuição da população jovem é a que mais parece galopar sobre o que eram as projeções. Nesse exercício de antecipação feito pela última vez pelo INE em março do ano passado, estimava-se que a população jovem, até aos 14 anos, ficasse abaixo dos 1,3 milhões de pessoas apenas em 2030 e agora já não anda muito longe disso: a 19 de abril, data de referência dos Censos, encontram-se 1 331 396 crianças até aos 15 anos a viver em Portugal, menos 240 933 do que há 10 anos – reflexo da quebra de natalidade que atingiu um mínimo histórico em 2014 (82 367 nascimentos), nos anos do resgate financeiro, e que depois de recuperar ligeiramente entre 2015 e 2018 tornou a cair em 2019, no ano passado e agora continua a trajetória decrescente, desfazendo expectativas de um baby-boom fruto dos confinamentos.
Índice de envelhecimento agrava-se 42% em dez anos Com menos crianças e mais idosos, agravou-se o índice de envelhecimento, assinalou o INE, dando conta do rácio de 182 idosos para cada 100 jovens. A população com mais de 65 anos foi a única a aumentar no país nos últimos dez anos, uma subida de 20,6%, enquanto as crianças sofreram a maior redução (-15,3%).
Em 2011, eram 128 idosos por cada 100 jovens, pelo que há um agravamento do índice de envelhecimento de 40% no espaço de uma década. E indo buscar o indicador para as últimas décadas percebe-se que o rosto do país está cada vez mais distante do que foi: foi no ano de 2001 que se inverteram as forças, passando pela primeira vez a haver mais idosos do que jovens, então 101,6 por cada 100 crianças até aos 15 anos. Hoje são praticamente o dobro do que eram no início do milénio e o dobro dos jovens. Uma mudança num curto espaço de tempo: na década de 80 e 90, quando nasceu a atual geração de pais, havia 60 a 70 idosos para cada 100 jovens.
Voltando às projeções do INE divulgadas no ano passado, o cenário é a população continuar a concentrar-se nas idades superiores, o que só deverá estabilizar, dizia então o INE, por volta de 2050 – quando as gerações nascidas nesta época em que os níveis de fecundidade estão abaixo do limiar de substituição de gerações já se encontrarem elas próprias na categoria de idosos, com mais de 65 anos. Mas estabilizar não vai significar que a população irá rejuvenescer, as projeções são de que, por essa altura, a população portuguesa ande pelos 9 milhões de habitantes e que por cada 100 jovens haja 300 idosos.
Outro cálculo que é possível fazer com os dados divulgados ontem pelo INE é o do chamado índice de sustentabilidade potencial, na definição dada pelo Instituto Nacional de Estatística “o quociente entre o número de pessoas com idades dos 15 aos 64 anos e o número de pessoas com 65 e mais anos”.
Se em 2011 havia 6 979 785 pessoas em idade ativa para 2 010 064 idosos, em 2021 a população ativa encolheu para os 6 589 284 e os idosos são 2 424 122. Significa que atualmente há 271 cidadãos em Portugal em idade ativa por cada 100 idosos, quando no ano 2000 eram ainda mais de 400, segundo as análises disponibilizadas pelo INE.
Nos cenários publicados pelo instituto no ano passado, a modelação central indicava que se passará de 295 pessoas em idade ativa por cada 100 idosos em 2019 para apenas 138 por cada 100 idosos em 2080, com o grosso da quebra a acontecer nas próximas duas décadas: na década de 30, já haverá menos de 200 pessoas em idade ativa por 100 idosos.
Perante os resultados dos Censos, que vêm carimbar a mudança na demografia do país, a demógrafa Maria João Valente Rosa, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, diz ao i nesta edição que é preciso um “pacto de regime” sobre como se organizar a sociedade no futuro, e apela aos partidos e sociedade civil para refletirem sobre isso. Ontem, dia de divulgação dos resultados provisórios do exercício censitário, não houve reações partidárias nem de qualquer órgão de soberania – os dados ficaram disponíveis online, com o agradecimento do INE à adesão dos portugueses. “Mais uma vez agradecemos a toda a população que aderiu aos novos modos de recolha na resposta aos Censos 2021, pela internet, e a todos os envolvidos, trabalhadores do INE e a sociedade em geral, que de forma empenhada permitiram a realização dos Censos com sucesso e qualidade num contexto tão excecional de saúde pública do país, ditado pela pandemia da COVID-19”, escreveu o presidente do INE. “O INE agradece. A Sociedade agradece”.
Sete vezes mais idosos que jovens
Interior envelhecido Nos concelhos mais envelhecidos do país, há sete vezes mais idosos do que jovens. São eles Oleiros, Alcoutim e Almeida, com um índice de envelhecimento de 780, 759 e 722 idosos por cada 100 jovens, respetivamente, indicou o INE. As últimas projeções para o ano de 2020, com base em estimativas de população residente, apontavam já para Oleiros em primeiro lugar no índice de envelhecimento, mas não numa situação tão aguda como a que foi apurada nos Censos. Os dados do INE, que o i consultou, davam um índice de envelhecimento de 167 em Portugal e 737,1 em Oleiros.
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