Já se sabe que os autocratas não param, nem prezam assim tanto a paz. Ao passo que as democracias, bem acomodadas no seu estilo de vida, tendem a um apaziguamento impossível.
O ex-ministro Severiano Teixeira escreveu neste aspecto um texto útil e lúcido. Com autocratas, quanto mais se espera, pior. Nada os parará, e vão sempre vendo onde podem chegar.
Se Putin já parecia Hussein como mentiroso e nada preciso, a rasgar as suas próprias assinaturas de Minsk e a dizer que a Rússia não invadiria a Ucrânia, agora torna-se igualzinho a defender o armamento do seu país numa eventual guerra, e com a retórica própria dos fracos que garantem estar em condições de provocar as maiores desgraças ao inimigo. Porta-se como Hitler, embora acuse os outros de fascistas. Talvez as suas palavras arrogantes funcionem junto de alguém como os franceses, ou outros receosos de tudo. Ou dos russos, porque são veiculadas ali sem grande liberdade. Não dos americanos (como se tem visto por Biden), nem dos alemães (que se apressaram a suspender o Nord Stream 2, com todas as implicações que isso possa ter para o país). Embora, pelo que li, foram também os alemães a travar a retaliação de um SWIFT geral russo, mais cedo. Talvez os americanos ainda estejam muito comedidos, por causa de traumatismos com os poderes que instituíram, ou terão ajudado a instituir, em países como o Afeganistão, o Iraque ou a Líbia. Ao menos Putin tem tomado bem conta das armas nucleares (coisa a que Medvedev agora ameaça pôr fim). E Putin deitou fora esse capital, ao ameaçar o mundo com uma Guerra Nuclear.
Aparentemente, Putin terá sucesso (e à hora que escrevo estava perto de Kiev uma enorme coluna de blindados russos.. A Ucrânia é um país demasiado fraco perante a Rússia (em armamento, um dos problemas de Putin é que democratizada poderia ultrapassá-lo economicamente), e ninguém parece agora disposto a defendê-la, e depois talvez seja tarde, e necessária outra Grande Guerra europeia para travar Putin. Para já, os ucranianos têm estado a ultrapassar todas as expectativas, em excelente comportamento.
Claro que as sanções parecem prejudicar mais os Ocidentais europeus, do que o inimigo. Sobretudo mais os povos dos 2 lados, do que quem provocou a Guerra ou a enfrenta (e se preparou para maus tempos). No entanto, sendo certo que só teremos paz removendo-o, a ele Putin, valerá a pena deixá-lo ser ele a escolher as melhores ocasiões de ataque? Mesmo que pareça não haver para ele um substituto credível para controlar aquele armamento todo (o que hoje já nem parece ser verdade), de um pais economicamente fraquíssimo, mas que é ainda uma potência militar?
Felizmente, ao menos o Presidente dos EUA não é agora Trump (sempre muito dependente de Moscovo, para além de disparatado e arrogante), mas Biden (muito experiente nestas coisas internacionais). Apesar das marés por que estará passando (com as eleições parciais e a forma apressada como saiu do Afeganistão).