No próximo dia 24 de Fevereiro terá decorrido um ano sobre o início da guerra na Ucrânia. Não por acaso, a data coincide com uma nova ofensiva por parte das tropas russas, associada a uma desestabilização dos países vizinhos, o que leva a temer um alastrar do conflito a proporções inicialmente não previstas.
A situação que se viveu até agora pode ser comparada com o início da II Guerra Mundial. Efectivamente, após a invasão da Polónia pela Alemanha nazi a 1 de Setembro de 1939, tanto a Grã-Bretanha como a França declararam guerra à Alemanha dois dias depois. No entanto, não tomaram qualquer iniciativa militar, deixando a Alemanha de mãos livres para ocupar o território polaco ocidental, sendo que a URSS a partir de 17 de Setembro desse ano também procedeu à ocupação do território polaco oriental. O período que então se viveu foi classificado no Ocidente como ‘guerra de mentira’ (drôle de guerre) ou ‘guerra sentada’ (Sitzkrieg). Esse período durou oito meses, só tendo terminado em 10 de Maio de 1940 com a invasão simultânea pela Alemanha nazi da França, Bélgica, Luxemburgo e Holanda, que foram alvo de intensos bombardeamentos. Aí a guerra deixou de ser de mentira e passou a ser a sério, tornando-se uma guerra-relâmpago (Blitzkrieg) que levou à capitulação da França em 22 de Junho de 1940, pouco mais de um mês depois.
Logo que foi concretizada a invasão da Ucrânia, e apesar dos constantes pedidos de apoio militar por parte do Presidente Volodymyr Zelensky, a resposta ocidental assentou essencialmente no estabelecimento de sanções económicas à Rússia, as quais foram consideradas suficientes para dissuadir a continuação do conflito. Era, no entanto, manifesto que as mesmas não conduziriam a qualquer resultado útil, uma vez que a Rússia estava a ser sujeita a sanções económicas desde a ocupação da Crimeia em 2014 e isso não dissuadiu Vladimir Putin de atacar a Ucrânia. As sanções podem prejudicar o povo russo, mas não afectam minimamente a sua classe dirigente, sendo por isso platónico esperar que as mesmas possam levar Putin a terminar com a guerra.
Por isso, a única solução para este conflito era e continua a ser o apoio militar à Ucrânia, mas o mesmo tem sido concedido de forma extremamente hesitante. Basta ver as dificuldades que existiram para o simples fornecimento de alguns tanques de guerra, e a enorme resistência que está causar o pedido de envio de aviões F-16 para a Ucrânia, como se fosse possível algum país combater numa guerra moderna sem dispor de aviões de guerra.
Mas se o Ocidente tem hesitado em fornecer apoio militar à Ucrânia, há outros países que não hesitam em apoiar militarmente a Rússia. É o caso do Irão, que já forneceu à Rússia centenas de drones, que foram utilizados nesta guerra para atacar a rede eléctrica e as instalações energéticas da Ucrânia. E segundo notícias recentes, esses drones estarão a ser modificados para que as suas ogivas se tornem ainda mais destrutivas, aumentando exponencialmente os danos causados nas infraestruturas. Para além disso, está-se a assistir a uma nova mobilização de centenas de milhares de soldados russos, que torna a defesa da Ucrânia ainda mais difícil.
Simultaneamente, na Moldova já ocorreu a demissão da primeira-ministra, e a Presidente fala agora da existência de um golpe de Estado em curso no país, com militares estrangeiros, disfarçados de civis, a preparar acções violentas, como a assalto a edifícios do Estado e a tomada de reféns. Sabendo-se que a Moldova possui igualmente uma região russófona, a Transnístria, não é de excluir que Putin queira replicar na Moldova o que está a fazer na Ucrânia, o que lhe permitiria nova expansão territorial e uma ameaça ainda maior à paz e segurança colectivas.
Não deve, por isso, haver qualquer hesitação no fornecimento à Ucrânia do apoio militar necessário para esta poder repelir a invasão russa. Porque neste momento a Ucrânia está a lutar na Europa pela defesa dos valores europeus.