Habitação jovem

Acredito que a solução para a habitação  passe pela despenalização do investimento privado e pelo aumento do rendimento dos portugueses, em particular as gerações em via de emancipação

É incontestável. Estamos a viver uma crise habitacional em Portugal que afeta, em especial, a geração jovem. E apesar dos esforços que têm vindo a ser feitos (ainda que descomprometidos), as medidas tardam a chegar e representam, parece-me, um penso rápido para estancar um ferida maior que ele.

Entre a redução de impostos (que, em primeiro lugar, nem deveriam ser tão expressivos), um maior controlo por parte do Estado ou a criação forçada de condições de habitação, as propostas assentam sobretudo na redução de custos.

É certo que quaisquer iniciativas nesta fase são bem-vindas, contudo, não resolvem verdadeiramente a questão. Reduzir custos e ‘forçar’ oferta é como ter uma laranja, extrai-lhe o sumo e dilui-lo com água, para que dê para duas ocasiões. Ironicamente melhorou a situação, mas continua a não substituir o conteúdo nutricional de uma segunda laranja.

Acredito que a solução passe pela despenalização do investimento privado e pelo aumento do rendimento dos portugueses, em particular as gerações em via de emancipação. Vejamos: por cada euro que um jovem obtenha como rendimento a título particular, o Estado pode ficar com até cinquenta e dois cêntimos, e por cada euro resultante do lucro da sua atividade empresarial e distribuído em dividendos, o Estado fica com até quarenta e quatro cêntimos. Ora, desta forma é natural que seja quase uma utopia comprar ou arrendar uma casa sozinho.

Se existem casas disponíveis? Existem, mas o português não tem capacidade para suportar as rendas a elas indexadas. E aqui reside a dicotomia das oportunidades: ou se procuram os grandes centros urbanos para uma maior dinâmica laboral e trabalho qualificado, mas com rendas incomportáveis; ou se procuram os subúrbios ou o interior, para custos de vida mais sustentáveis, mas subjugando-se ao mercado de trabalho nele existente, muitas vezes com remunerações inferiores.

O que me parece evidente é que os sucessivos governos têm tirado com uma mão, dado com a outra, e no final o culpado é o cidadão. Tapar os buracos de uma economia frágil parece hobby neste país, mas não é solução para as gerações vindouras que são mais qualificadas, informadas, exigentes, que têm vontade de criar, de investir e de se emanciparem.

Quando existe um saldo positivo, o indivíduo tem escolha. Uma margem saudável permitiria a cada jovem ter o tempo e o espaço para aprender, melhorar a sua gestão financeira e, com o tempo, investir e crescer, quaisquer que sejam as suas condições. Se pelo menos fosse permitido ao português correr de igual para igual na economia, com os que de foram vêm, talvez a circunstância fosse mais sustentável.

Quanto ao investimento estrangeiro, para além de bem-vindo, julgo que faça parte. Quem não é português é livre e faz bem em aproveitar as suas oportunidades. Esta é a minha opinião, com um tom de protesto, por ver os meus pares amordaçados pela economia do próprio país, sem capacidade para aproveitar as oportunidades do mercado, como podem os estrangeiros.

O foco deveria estar, como nunca esteve, em aumentar o rendimento e capacitar o cidadão. Nunca em espremê-lo, com ao sumo da laranja.