por José Carlos Caldas
Professor de Psicologia no Instituto Universitário de Ciências da Saúde-CESPU
Parafraseando um famoso patologista, o Professor Oliveira Torres, “a partir do momento em que nascemos, já estamos a morrer”. Referia-se ele ao processo de morte celular que começa a ocorrer desde o início das nossas vidas.
A aproximação do fim de vida é, pois, um processo progressivo e comum a todo o ser vivo desde que nasce. Ainda que este fim seja esperado, pode representar um desafio a cada ser humano, e a atuação de profissionais de saúde mental – os “psis”, resumiremos nós para nos referirmos a psicólogos e psiquiatras – é muito relevante. Quando devem estes atuar? Em qualquer momento, no processo de envelhecimento, quando há doenças graves ou com as decisões informadas que podem levar a uma Diretiva Antecipada de Vontade ou as que se colocarão a partir de agora, após a aprovação da legislação da Morte Medicamente Assistida.
O envelhecimento per se está associado a um processo de reação às progressivas perdas de funcionalidade, de independência/dependência de terceiros. É o momento das nossas vidas em que nos confrontamos com a ameaça à integridade do Self, o que está na base do sofrimento para muitos. Nesta fase, em que fazemos um “luto antecipado”, os “psis” podem intervir na promoção de estilos de vida saudáveis, prevenção e intervenção, em especial, nas perturbações depressivas e de ansiedade reativas às perdas e na reabilitação.
Todavia, este fim inexorável pode surgir em qualquer idade, nomeadamente quando há uma doença grave e incurável. Nesse caso, “os psis” podem ajudar desde o primeiro momento a abordar o sofrimento do paciente e de familiares, tentando diminuir o mal-estar físico e psicológico e procurando que se partilhem emoções, problemas não resolvidos, os últimos projetos de vida ainda concretizáveis. É por isso que eles devem sempre fazer parte das equipas multidisciplinares presentes nos Cuidados Paliativos.
Tal como estão presentes na definição de decisões informadas que cada paciente ou família deve tomar sobre os tratamentos a seguir ou até mesmo se chegou o momento de parar. No caso da morte medicamente assistida, os “psis” farão sempre o acompanhamento na tomada de decisão, tentando garantir a sua compreensão plena, e também a avaliação da capacidade da pessoa para a tomar, caso seja portadora de perturbação psíquica ou de condição médica que afete a sua capacidade.
Não há dúvidas de que os profissionais de saúde mental são indispensáveis. Compreender, apoiar e respeitar o bem-estar psicológico dos pacientes e dos seus familiares é essencial para promover uma jornada de fim de vida mais digna e confortável para todos.