Não há dúvida, tem a escola toda. Da pré-primária à cátedra na carreira Política, não lhe falta nada no currículo, por mais que algum dos professores que o tiveram como aluno até possa acusá-lo de ter estudado pouco – se o fez, foi porque tanto lhe bastou para passar com distinção e chegar onde bem quis.
Sim, ele que foi o primeiro em democracia a legitimar-se como primeiro-ministro sem o partido que lidera ter sido o mais votado em eleições legislativas precisava lá de estudar mais para quê?
Sabe-a mesmo toda. Ó, se sabe. E até dá lições, agora aos professores – incluindo aquele que o cunhou de mandrião e com quem passou a medir meças –, com a sebenta na ponta da língua, mesmo quando esta o atrapalha, como ele bem tem consciência e nunca se importou, porque, se assim não fosse, teria seguido os conselhos da professora que tem lá em casa para que o corrigisse com meia dúzia de sessões de terapia da fala.
A mesma que não resistiu a dar um responso aos seus colegas que se manifestavam em protesto contra o Governo liderado pelo seu marido.
«Fernanda…. Fernanda…», tentou António Costa demovê-la.
Só que ele próprio se permitiu a uma reação tão despropositada e desadequada quão eficaz e penalizadora da luta dos professores: «Você com um cartaz racista devia era estar calado».
Costa chega a voltar-se para trás com o mesmo ar ameaçador com que reagiu àquele idoso centrista que o interpelou no Chiado numa agora já mais distante campanha eleitoral.
O episódio dos cartazes no Peso da Régua no 10 de Junho é apenas mais um bom exemplo de que as horas de estudo no velho Liceu Passos Manuel ou na Faculdade de Direito de Lisboa trocadas pelas lutas políticas lhe serviram de bom ensinamento.
‘Quantos são? Quantos são?’ – António Costa, quando acossado, vira animal mais feroz do que o outro.
Como dele dizia António José Seguro, para António Costa vale tudo.
Até tratar por racismo o que nada tem de racista.
Racistas são piadas como a da cobra e do indiano ou, como bem disse Miguel Prata Roque na SICN, termos como ‘Chamuças’, ‘Ké Frô’ e outros quejandos com que o primeiro-ministro e líder socialista é recorrentemente referenciado nas redes sociais.
O cartaz orwelliano evocativo do ‘triunfo dos porcos’ não tem nada de racista.
Pode até ser de mau gosto – e ninguém gosta de ver-se assim retratado, como é óbvio –, mas faz parte da luta política de rua, dos protestos e manifestações que por cá são incomparavelmente mais comedidos e contidas do que os que vemos pela Europa e pela América fora.
O que é verdadeiramente escandaloso na luta dos professores pelos seus, aliás legítimos, direitos é o prejuízo que estão a causar a uma geração de alunos que já levava dois anos de aprendizagem hipotecados pela pandemia, e que, assim, por total ineptidão do Governo e radicalização dos profissionais da Educação, passam a três.
Os cartazes do professor de Évora ativista da Fenprof são apenas uma forma de expressão e de condenação do primeiro-ministro e do ministro da Educação e ainda do Presidente da República, que reclamou com toda a razão que ninguém estava a mencionar que ele também foi um dos alvos dos manifestantes.
Ora, bem sabendo o preço político que o Governo e ele próprio já estão a pagar, António Costa não desperdiçou a oportunidade para tentar passar a fatura para os professores.
E haveria lá melhor forma de lançar o odioso para os docentes do que acusá-los de racismo?
Não havia, não senhor, há que reconhecer.
Qual Catarina e sua família em relação aos fascistas – a propósito, a peça de Tiago Rodrigues vai agora encerrar a Bienal de Veneza –, também Costa e a máquina de propaganda socialista liderada por Luís Paixão Martins são extremamente eficazes a esmagar opositores.
E se já sabíamos que, para eles, à direita do PS só há perigosos radicais e racistas, ficámos agora a saber que também à esquerda do PS só há perigosos radicais e racistas.
Só no PS – esse que conquistou a maioria absoluta e que com ela não sabe o que fazer nem resolver um único problema, como, por exemplo, o dos professores – está a virtude.
Por isso não é de estranhar que, com o PS no poder, e ainda por cima com maioria absoluta, o Estado e a Administração Pública estejam tomados pela família socialista.
Sim, porque no país do PS, se é certo que todos somos iguais, os socialistas serão sempre mais iguais do que os outros. Como os porcos de Orwell, esse racista.