Num mundo cada vez mais complexo e interconectado, a diversidade é seguramente uma das maiores riquezas de uma qualquer nação. Penso ser fundamental repensar e flexibilizar o sistema de educação, em particular o universitário, de forma a servir melhor o desenvolvimento de cada jovem, e do coletivo como resultado.
A diversidade é uma fonte inestimável de crescimento, pois é no confronto e exposição a diferentes perspetivas que existe o estimulo para a inovação e progresso. Essa é uma razão pela qual a educação em Portugal deve reconhecer e valorizar a diferença, não só étnica e cultural, como também socioeconómica e de competências ou habilidades. Platão, conhecido filósofo da Grécia antiga, defendia que justiça acontece quando cada um ocupa o lugar apropriado na sociedade, de acordo com as suas habilidades e conhecimentos. Aristóteles, discípulo de Platão, complementa defendendo que justiça requer uma distribuição de recursos de acordo com os méritos individuais. Ou seja, existe justiça na medida em que existir uma distribuição de recursos de tal forma que, cada cidadão tenha a melhor oportunidade para desenvolver as suas competências e conhecimentos. Desta forma, ocupa o seu lugar na sociedade e serve a comunidade com aquele que é o seu elemento diferenciador.
Cada jovem possui habilidades, interesses e objetivos únicos. Acredito que um sistema educacional saudável proporcione um ambiente flexível, onde os estudantes tenham a liberdade de escolher disciplinas e construir o seu percurso de acordo com as suas aspirações, personalidade e curiosidades. Infelizmente, tenho para mim que a rigidez curricular tem um efeito perverso, limitando o desenvolvimento individual ou invés de o estimular.
Ao permitir que os alunos personalizem o seu caminho, não só estamos a responsabilizá-los e compromete-los com eles próprios (forte indicador probabilístico de cumprimento da tarefa) como podemos experienciar a descoberta de outros ‘dons’. A inovação existe, como sempre existiu, no cruzamento de matérias transversais e sem aparentes sinergias entre si.
Sou de opinião de que o leitor deve usufruir de quaisquer recursos que disponha para se desenvolver. No entanto, não julgo que tal possa ser feito sem a inerente exploração do próprio. Os bebés não vêm com um manual de instruções e definições de fabrico que possam consultar para saberem em que competências se distingue. É neste momento que destaco a importância de cada um de nós se deixar envolver em projetos de equipa, com naturezas de conhecimento e contextos culturais diferentes. É no contraste de si com o mundo que se faz a descoberta interior e se desenvolve a consciência.
À luz da visão de justiça de Platão, é evidente para mim que a diversidade é uma força motriz para o desenvolvimento individual e coletivo justo. O país ganha com a valorização da diversidade e uma oferta curricular flexível e transversal. Os desafios do futuro estão por desvendar e será difícil superá-los sem uma sociedade inovadora, perspicaz e capaz de, acima de tudo, colaborar em prol da comunidade.