Por Carlos Bonifácio, Mestre em Estratégia e João Barreiras Duarte, Consultor e Gestor de Empresas
Desde finais de janeiro, que se anunciava a contraofensiva, mas os meses foram passando e sistematicamente adiadas as intenções ucranianas. Apenas era registada uma defesa tenaz contra as investidas do regime déspota de Putin que tem infligido enormes baixas junto dos civis e danos nas infraestruturas do estado ucraniano.
Durante os últimos meses, a grande coligação do ‘Grupo de Contacto’ de Ramstein foi disponibilizando material logístico e ofensivo em várias áreas, dando formação a milhares de soldados ucranianos. Os ‘famosos’ tanques Leopard 1 e 2, até há pouco desconhecidos do grande público, os Challenger 2 e os veículos de combate Bradley começaram a ser cedidos em quantidades generosas ao exército ucraniano, bem como milhões de munições e mísseis de curto e médio alcance. Mais tarde, os pedidos de Kiev tornaram-se mais ambicioso com os caças F-16. É neste patamar em que nos encontramos com o Ocidente a comprometer-se para já a dar formação aos pilotos ucranianos. Contudo, perspetiva-se que o seu fornecimento será uma questão tempo, até porque a contraofensiva só terá um real sucesso se a Ucrânia dispuser de apoio aéreo e os caças F-16 dão essa vantagem no terreno.
Desde fevereiro de 2022, salvo honrosas exceções, o poder de iniciativa esteve quase sempre do lado russo, colocando no terreno meios militares acumulados durante décadas. Os últimos dias mostraram outra realidade: pela primeira vez os ucranianos tomaram a iniciativa no terreno, sendo ainda prematuro vaticinar o resultado desta contraofensiva.
Analistas e estrategas militares estimam que a contraofensiva vai ter custos humanos significativos. A regra é que quem ataca perde cerca de 3 soldados para 1 de quem defende. Claro que os veículos militares no terreno usados pelos ucranianos conferem uma maior proteção aos soldados de Kiev, mas isso não impedirá um inevitável aumento do número de baixas do lado ucraniano.
Por outro lado, contrariamente ao que uma certa opinião pública esperava, o material militar ocidental não determina no imediato um ganho significativo no terreno. Esta será uma contraofensiva de desgaste e demorada que, se correr conforme o planeado, só lá para o final do verão terá resultados assinaláveis.
Os países ocidentais, sabem que o apoio ao esforço de guerra Ucraniano não se esgotou no material até agora cedido. O apoio vai manter-se e até aumentar, com consequências económicas e políticas para a Europa ocidental. São os custos da defesa da democracia e de uma paz que não se quer conquistada de forma precária ou com o congelamento do conflito.
A contraofensiva será uma verdadeira prova de fogo para a Ucrânia e para os aliados. São necessários resultados, sob pena das opiniões públicas ocidentais vacilarem. Por sua vez, para o regime Putin, a situação é incerta, e apesar de ainda disporem de recursos militares significativos, não terão a capacidade de se regenerar economicamente para continuar a alimentar esta invasão. A Rússia, apesar de estar longe do que ambicionava no inicio da invasão, já se dava nesta altura por satisfeita com a consolidação do pouco que conquistou no terreno.