O regresso do Casal Ventoso e das barracas

Os comentadores afetos à Rússia fazem lembrar, embora em moldes muito diferentes, os tudólogos que peroram sobre tudo e não se preocupam em fazer minimamente o trabalho de casa.

Fiquei a pé até às 4h30, e estava em casa, a ver avidamente a história do grupo Wagner a entrar pela Rússia adentro, ameaçando derrubar Putin e prender os generais mais próximos do Presidente russo. Como tenho consideração pelas análises do coronel Mendes Dias, ia ficando estarrecido com as suas indecisões quanto ao que se estava a passar, mas rapidamente percebi que o coronel tinha toda a razão em não fazer sentenças definitivas.

Eu, na minha ignorância na matéria, ia-me questionando como é que os 25 mil homens anunciados – depois falou-se em bem menos – conseguiam galgar solo russo com a mesma facilidade com que eu ponho manteiga no pão no verão. Mas não existiam tropas russas no caminho até à capital? A aviação, considerada uma das melhores do mundo, estava sem armamento ou combustível para dizimar a tal coluna de tanques que se estendia ao longo de mais de 50 quilómetros?

E como é que os compinchas de Prigozhin  conseguiram conquistar Rostov, dita uma das cidades mais importantes para as tropas russas, no que à guerra na Ucrânia diz respeito? Cansado de não perceber nada, fui deitar-me. No sábado à tarde chegou-nos a notícia que o grupo Wagner aceitou parar no avanço sobre Moscovo e que estará algures entre a Bielorrússia e a Rússia. Coisa mais enigmática é difícil de existir, mas os majores-generais vermelhos não pensam assim e acham que foi uma jogada de mestre de Putin. Esta invasão bárbara da Rússia está a transformar antigos militares portugueses em verdadeiros devotos do santo Putin,  vendo os milagres do Presidente russo em tudo o que acontece. Mesmo quando Prigozhin diz que já morreram mais de 100 mil soldados russos na invasão miserável da Ucrânia, quando em dez anos de guerra no Afeganistão a então União Soviética não terá perdido mais de 15 mil soldados.

Os comentadores afetos à Rússia fazem lembrar, embora em moldes muito diferentes, os tudólogos que peroram sobre tudo e não se preocupam em fazer minimamente o trabalho de casa. Ainda há dias alguém se atirava ao Governo, e acho que sou insuspeito, por algo que o executivo não tinha feito, quando o ministro em questão tinha dito e apresentado dados completamente contrários. Mas a tudóloga mantinha-se firme, pois o que era verdade há cinco anos ‘deve’ ser verdade hoje.

De facto, há verdades de há 25 anos que voltaram a ser verdades hoje, mas isso não estava em discussão no programa em causa. A mim, como cidadão, preocupa-me que o Casal Ventoso esteja de novo ativo, não como em 1998, mas para lá caminha, e que as barracas que tinham sido erradicadas de Lisboa estejam a regressar em força. Preocupa-me que os últimos restaurantes nacionais do Bairro Alto estejam a ser vendidos a preços astronómicos em nome de não se sabe bem o quê. Preocupa-me que no litoral alentejano se passe o mesmo e quase todos assobiem para o ar.

Preocupa-me que a imigração esteja ao deus dará até porque garantirá, em princípio, a salvação do sistema de segurança social. Em nosso nome, estão a deixar-se pobres desgraçados viverem em condições miseráveis, quando o que procuram é uma vida digna, a que têm direito, como é óbvio. Mas deixar os novos traficantes de escravos comprarem tudo o que existe para transformarem em sedes de legalização de migrantes, parece-me imperdoável.

Também não gosto de ver símbolos da identidade nacional serem vandalizados sem que se faça grande coisa aos infratores. Vejam a diferença entre o que se passou com o casal de turistas que decidiu pichar o Coliseu de Roma e o que aconteceu aos anormais que picharam o Padrão dos Descobrimentos. Enfim, haja esperança.

 

vitor.rainho@nascerdosol.pt