A Saúde sem remédio…

Manuel Pizarro, embora médico e apoiado por uma ‘direção executiva’, coordenada por outro médico, só viu piorarem os sintomas que debilitam o SNS.

Anestesiado pela espuma mediática, o país ‘encolhe os ombro’, resignado, perante a deterioração continuada dos serviços públicos, desde a Saúde, à Educação ou à Justiça. Entre insuficiências várias e greves cumpridas ou anunciadas, o mal-estar silencioso alastra, ao sabor do ‘deixa andar’ do Governo.

Na Saúde, um setor crítico, o relatório recente do Conselho de Finanças Públicas é simplesmente arrasador.

Diz o Conselho, em síntese, que pioraram os indicadores da assistência prestada pelo SNS, com a «agudização de determinados constrangimentos já patentes no período pré-pandemia», verificando-se o aumento das listas de espera para primeiras consultas e cirurgias, enquanto o número de doentes sem médico de família disparou mais de 30 por cento, ascendendo agora a quase 1,7 milhões de portugueses.

Esta realidade teve, entretanto, dois ‘beneficiários’ objetivos: os hospitais privados, cuja procura subiu exponencialmente; e as principais seguradoras, que registaram um crescimento explosivo na modalidade de Saúde, atingindo 3,4 milhões de contratos até 2022 (expansão de 75% desde 2010…), com «uma crescente utilização das suas coberturas», segundo a associação do setor. É obra.

Em consequência, as marcações de consultas nos hospitais privados já se ressentem em algumas especialidades. Mesmo assim, bem diferente da saga terceiro-mundista vivida à porta de centros de saúde, cujos utentes são forçados a madrugadas para serem atendidos.

Conclusão óbvia: a degradação continuada do SNS tem sido uma ‘bênção’ para o setor privado, incluindo o funcionalismo representado pela ADSE, através de múltiplos protocolos.

O fervor ideológico de Marta Temido – agora candidata a várias sinecuras –, que acabou com as parcerias público-privadas que funcionavam bem (como foi reconhecido em relatórios do Tribunal de Contas), continua a fazer estragos.

O seu legado ficou, aliás, bem entregue a Manuel Pizarro (oriundo das listas da CDU nos anos 80) que, embora médico e apoiado por uma ‘direção executiva’, coordenada por outro médico, só viu piorarem os sintomas que debilitam o SNS, tanto em função de erros políticos de diagnóstico, como pela sangria de quadros.

É raro o dia em que não encerram mais urgências em hospitais públicos, designadamente, em Obstetrícia e Pediatria – para além das demoras no atendimento nas urgências gerais.

Se a situação é genericamente preocupante, quer pela falta de médicos de família quer noutras especialidades, então nos cuidados continuados ou paliativos engordam as listas de espera por falta de vagas, agravando as dificuldades sociais, nalguns casos com abandono de pacientes nos hospitais públicos. Um drama que tem sido escondido.

A culpa está na escassez de hospitais de retaguarda – e de outras estruturas assistenciais medicalizadas –, sem que haja um esforço por parte do Governo para corrigir uma situação dramática para muitas famílias, também por falta de articulação com o setor social.

Por exemplo: o Hospital de Sant’Ana, na Parede, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, e, supostamente, vocacionado para receber utentes com ‘altas sociais’, a partir de abril, em finais de maio ainda estava a ultimar o respetivo protocolo com o Governo…

Claro que as nomeações políticas para a provedoria da poderosa Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, estão a comprometer a sua viabilidade.

São agora conhecidos alguns investimentos ruinosos – desde a ‘internacionalização’ na área dos jogos, até à aquisição da maioria de capital do falido Hospital da Cruz Vermelha –, a par do inflacionamento de recursos humanos, em linha com a estratégia socialista na administração pública.

Com milhares de funcionários, a Santa Casa é um ‘monstro’, cujas contas dos últimos anos ainda não foram sequer aprovadas pela tutela, que aguarda o desfecho de uma auditoria, para apurar o verdadeiro estado da instituição.

Entre a chamada ‘Casa da Ásia’ ou a ‘Santa Casa Global’, têm-se desperdiçado milhões, que afetaram o equilíbrio financeiro da instituição, juntamente com a quebra de receitas dos jogos sociais durante a pandemia.

Ou seja: a Santa Casa tem delapidado recursos em patrocínios e projetos mais do que duvidosos, desde festivais de rock às mais variadas provas desportivas, e ‘marca passo’ na principal vocação de assistência aos mais vulneráveis.

Enquanto a Saúde ‘adoece’, o Governo finge que está tudo bem, utiliza o excesso de liquidez dos impostos cobrados para ‘amaciar’ o eleitorado e usa e abusa da técnica de ‘empurrar com a barriga’.

Volvido um ano desde que a ‘direção executiva’ foi empossada, com as fanfarras do costume, mal se conhece o que tem feito, exceto servir de biombo útil ao ministro.

Até quando é a grande incógnita, num país que se consome à espera dos remédios prometidos e adiados…