O bloqueio mediático a Luís Montenegro

As televisões são como os medicamentos – tomem, mas leiam as bulas, até porque os patrões dos media estão mais próximos do lucro do que das notícias.

Por Luís Castro, Jornalista

Grita Luís, grita! Por que não bates o pé e fazes uma birra? Por que não te barricas numa trincheira, vais beber umas cervejas a uma esplanada ou enfrascas-te numa qualquer feira de vinhos e enchidos? Que mania a tua de só queres falar de assuntos importantes. E chatos.

Já devias saber que vendes melhor as tuas ideias se tiveres uma bola vermelha no nariz, se te atirares ao Tejo, se fores à flash interview comentar um jogo do teu clube ou se encheres os microfones dos jornalistas com bulhufas. Enfim, se deres às televisões aquilo que elas tanto gostam – espetáculo e palhaçada.

Também te aconselho a virares um bad boy, um bully, porque os media preferem o lobo mau, as más companhias, os desleais, os que traíram ou afrontaram os chefes, os que afundaram países. Bocage já dizia que quem é muito amado é pouco amante. E foi o que se viu daqueles por quem nos apaixonámos. Alguns desses príncipes do nada ainda andam por aí – continuam entre os vivos porque não foram devidamente enterrados.

Estes passados atrasam-nos o relógio e nunca reconhecem o seu lugar – continuam presentes. E há os que se foram com uma enorme vontade de ficar.

Da tua/vossa Universidade de Verão, as televisões resumiram a que Durão não vai ser candidato a Belém, que Portas não se descarta, que Santana se pôs em bicos de pés e que Santos Silva até pode ser candidato à junta de freguesia. E rapidamente passaram à polémica no Dragão, à goleada do Benfica, aos generais que insistem em não voltar aos quartéis e aos ‘tudologistas’ e ‘vulgarólogos’ do costume. No final ficámos a saber mais do mundo dos outros do que do nosso.

Nessa noite, ninguém discutiu, criticou ou elogiou o que lá disseste e propuseste para os jovens, só a RTP3 – aquela que tantas vezes é acusada de ser pé de microfone do governo. Podem chamar-lhe cinzenta, formal e institucional, mas continua a mais sensata e menos histérica, mais equilibrada e menos enviesada, mais plural e menos danosa para a democracia.

As televisões são como os medicamentos – tomem, mas leiam as bulas, até porque os patrões dos media estão mais próximos do lucro do que das notícias.

Todas as noites há mais opinião do que informação – até parece que na política só há tensão e conflito. Não há espaço para debater ideias ou propostas e fazer o contraditório. É por isso que a maioria não consegue pensar de forma diferente. O jornalismo independente está em perigo e os seus apóstolos começam a ser poucos.

Já agora, se um dia fores primeiro-ministro, que não entres em coboiadas de fechar ou vender canais da Televisão Pública sem primeiro saberem do que estão a falar. E que aprendas com os erros do teu governo passado para que não repitas tutelas desastrosas ou miseráveis, como as dos últimos vinte anos. Cada vez mais se justifica um Serviço Público de Média fora do garrote político – Televisão, Rádio, Agência e Digital.

Mas voltando à tua comunicação, também devias saber que os comentadores que habitam a corte lisboeta não apreciam os que que têm sotaque – acham-nos menores. Mal possam, correm com eles. Os sulistas e elitistas não gostam dos sociais liberais do norte. E suspeito que nas próximas eleições te preparas para repetir o erro, mas tu lá sabes.

E dizes que os portugueses são inteligentes. Errado, meu caro. Se fossemos inteligentes responsabilizávamos os políticos e os governantes que nos levaram para o fundo da Europa. Também lá estiveste, também atiraste nuvens ao vento. Espero que não sejas dos que pedem votos aos pobres e recursos aos ricos e depois mintas a ambos; que sintas as nossas feridas e não nos chames piegas, como fez Passos Coelho.

Tal como eu, há muitos portugueses que já não se revêm nos partidos atuais nem se sentem representados por eles. Não queremos saber se vocês são de esquerda ou de direita, queremos que nos façam felizes e não roubem o futuro dos nossos filhos.

Somos os órfãos da democracia, os que ainda votam para evitar que os fanáticos cheguem ao poder. Somos aqueles que votam no mal menor porque começa a faltar quem lute por um bem maior – nós, os portugueses.