Estando de férias e consumindo muito menos informação, vou rindo com algumas polémicas que alegram cá o burgo. Sendo notório, para quem me conhece, que desprezo a política wokista, a do cancelamento, fiquei banzado com a polémica da escultura de Camilo Castelo Branco que está há 11 anos, no Largo Amor de Perdição, no Porto. Trinta e sete individualidades, entre as quais artistas, advogados, curadores e políticos exigiram a remoção da escultura por a obra provocar um «desgosto estético». «O grande amor de Camilo foi Ana Plácido, cuja memória não merece ultraje de se pôr o génio do Amor de Perdição e das Novelas do Minho abraçado a um exemplar mais ou menos pornográfico», escreveram os autores da petição para a remoção da obra.
Estranhamente, Rui Moreira, presidente da autarquia do Porto, num primeiro momento, aceitou os queixumes dos 37 signatários e deu ordens para a escultura ser retirada para os armazéns autárquicos, decisão que haveria de reverter após perceber a tontice em que tinha alinhado. Os 37 signatários, entre os quais Mário Cláudio, António Lobo Xavier, Ilda Figueiredo e Artur Santos Silva – estranhamente um dos promotores da obra em 2012 – pediram a Rui Moreira que fizesse o «favor higiénico de mandar desentulhar aquele Largo de tão lamentável peça e despejá-la onde não possa agredir a memória de Camilo».
Acredito que, até porque alguns dos signatários e o próprio presidente da autarquia não são propriamente diáconos remédios, tenham escolhido o timing errado para criticar o suposto mau gosto da obra. Mas que a petição se confunde com a filosofia wokista disso ninguém tem dúvidas, e os ofendidos podiam e deviam ter pensado duas vezes antes de avançarem com tal ato censório.
Virando a página, mas tocando a mesma música, o que dizer das críticas lançadas ao Presidente da República por este ter aconselhado uma mulher, no Canadá, a ter cuidado com o decote pois estava frio e ainda se podia constipar. Logo as aventesmas da nossa praça, a que se juntou Ricardo Araújo Pereira, exigiram que Marcelo se retratasse pois tinha tido uma atitude machista ou mesmo de tarado sexual. Que diabo, Marcelo é, seguramente, das personagens menos gabirus que conhecemos. Onde é que há maldade sexual nalguma coisa que Marcelo possa dizer?
Mudando de assunto, Américo Aguiar acaba de ser nomeado bispo de Setúbal, quando no final de setembro receberá o barrete vermelho de cardeal. É óbvio que o presidente da Jornada Mundial da Juventude ambicionava o cargo de patriarca de Lisboa, mas, devido às críticas justas ou injustas dos seus pares, teve de se contentar com Setúbal. Há quem diga que Américo Aguiar quer provar que é um homem do povo, e não apenas das elites, e que nas novas funções tem o palco ideal para o demonstrar. Um dos cargos que lhe estaria destinado, um dos Ministérios do Vaticano, fica muito longe para um dos mais jovens cardeais portugueses, até por que já lá há muitos portugueses. Diz-se até que o Papa tomou uma decisão ‘à moda da tropa’. Rui Valério queria Setúbal e foi para Lisboa, Américo Aguiar queria Lisboa e foi para Setúbal.
Veremos quantos anos ficará em Setúbal e qual o trabalho ativo que desempenhará em prol do povo.