Meios de comunicação social muito diferentes noticiavam na semana passada e nesta semana que o «elevado custo das casas está a aumentar o número de sem abrigo».
Na rádio (Antena 1, da RDP) a conclusão era retirada de declarações do presidente da associação CASA, segundo o qual a esmagadora maioria dos novos sem Abrigo «são imigrantes sem trabalho e sem o devido enquadramento social» – e lamentava: «Vieram para Portugal à procura de melhores condições de vida mas acabam sem trabalho e a viver na rua».
Numa estação de televisão (CMTV), uma reportagem dá conta de que há cada vez mais gente a viver nas tendas que crescem como cogumelos na Quinta dos Inglesinhos, em Carcavelos. A jornalista entrevista um imigrante sem trabalho que começou por montar a tenda na praia, vai para dois anos, e mudou-a depois para o pinhal. A seguir, fala com um casal de jovens (ele trabalhador na restauração a troco de 30 euros/dia e ela desempregada) que teve de entregar os dois filhos menores ao cuidado de uma instituição tutelada pela Segurança Social quando a senhoria lhes negou a «renovação do contrato de arrendamento» da casa onde residiam.
Noutro canal de TV (CNN-Portugal), Carlos Moedas respondia à ministra Marina Gonçalves sublinhando que, embora o presidente da Câmara de Lisboa faça «tudo o que pode para ajudar» a resolver os problemas da cidade, a questão da política de imigração não é da competência das autarquias mas, sim, do Governo central.
Ora aí está. O problema do crescente número de imigrantes sem trabalho e a dormir na rua (que, alias, não é só grave em Lisboa, embora naturalmente assuma maiores proporções na capital e nos seus arredores) não resulta do ‘elevado preço das casas ou das rendas’ nem é um problema de habitação. É, como diz Carlos Moedas, uma consequência de uma política de imigração falhada ou inexistente.
De facto, veja-se como o presidente da Associação CASA, Máximo Ferreira, relaciona o aumento do número de sem abrigo em Portugal com o crescente número de imigrantes «sem o devido enquadramento social».
Esse é o principal problema!
Aliás, como se viu com os refugiados do Afeganistão após a retirada das tropas americanas daquele país ou com os ucranianos na sequência da invasão das tropas russas, e como também se verificou com vagas de imigrantes timorenses, africanos ou brasileiros, Portugal não é um destino desejado mas uma porta de passagem para a Europa de Schengen.
Precisamente porque não tem boas condições nem boas oportunidades para oferecer. Em suma, porque a política de imigração que temos não passa por dar o ‘devido enquadramento social’ aos imigrantes.
O Governo pode continuar a tentar sacudir a água do capote e mandar as culpas para o lado – como a ministra da Habitação tentou fazer com as Câmaras de Lisboa e de Alcochete em relação às vítimas de um incêndio na Madragoa e ao caso da exploração laboral para o tráfico internacional de bivalves do Tejo, no seguimento do que também já fizera a ministra dos Assuntos Parlamentares, com a pasta da migração, Ana Catarina Mendes.
Mas já é demasiado para não suscitar reação.
Claro que nada justifica a tonteria daquelas rapariguinhas mimadas a quem as televisões deram tempo de antena para verbalizarem um rol de disparates em nome de uma causa maior como a questão climática e ambiental.
Como já se percebeu que umas bolinhas de tinta verde só servem para os governantes socialistas retirarem dividendos junto da população. Seja agora o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, com a nobreza da sua atitude perante esta ação de garotada (subiu uns pontos no ranking dos socialistas para a sucessão), como já o tinha sido para o primeiro-ministro, António Costa, com a sua oportunista reação aos protestos dos professores com uns cartazes de gosto duvidoso.
Mas, seja como for, começa a haver demasiados sinais de saturação com a inação do Governo e, sobretudo, com as suas medidas meramente assistencialistas.
Não se mata a fome com migalhas, nem se constroem casas a começar pelo telhado, como não se resolve o problema dos imigrantes escancarando fronteiras…
Este Governo não tem soluções.
Há precisamente um ano, escrevi nesta página que António Costa não tem uma ideia para Portugal. Não é só Costa. São quase todos os seus ministros.
E, na falta de soluções, lá vêm as ajudazinhas, que até podem aliviar mas não resolvem nada.
Costa chegou ao poder (apeando o seu antecessor no PS, António José Seguro) com uma palavra: ‘poucochinho’.
E é por ela que começa também a cair.
Este Governo desperdiça a maioria absoluta. Com raras exceções, é um Governo de ‘poucochinhos’. l
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