Os complexos de esquerda da direita

Portas, recorde-se, foi quem pregou o primeiro prego no caixão em que o CDS agora se deita, ao esvaziá-lo da doutrina cristã que esteve na génese da sua fundação e fazendo-o derivar para um caminho demasiado liberal para aquelas que foram, desde sempre, as suas bases de apoio.

Qualquer esquerdista, seja ele um social-democrata moderado ou um comunista radical, não tem nenhum pejo em se afirmar de esquerda, crença, aliás, da qual se diz mesmo orgulhar.

Não me recordo de ouvir algum militante socialista definir-se como sendo de centro-esquerda, mesmo entre aqueles identificados como pertencentes à ala mais à direita do PS.

Não, todos se identificam como sendo de esquerda, fazendo-o com um largo sorriso estampado no rosto, como se essa condição lhes atribuísse privilégios sobre os demais.

No sentido contrário, é frequente presenciarmos o discurso de vários dirigentes políticos que se movimentam no espectro político referenciado como oposto aos ideais da esquerda, no qual, com toda a convicção, nos procuram convencer de que se situam no espaço do centro-esquerda, fugindo a sete pés da palavra direita, como se esta fosse possuída por seres demoníacos.

Os próprios fundadores do CDS tiveram a extrema preocupação em o catalogar de centrista, atribuindo-lhe o nome de Partido do Centro Democrático Social, apesar das suas raízes intrinsecamente conservadoras.

Apenas agora, e passado quase meio século desde a instauração desta partidocracia que nos rege, é que podemos ouvir alguns dirigentes daquele partido a não recearem afirmar-se como de direita, apesar deste destemor ter a sua origem, certamente, na novel circunstância de se ter posicionado no combate político um partido a reclamar-se daquele espaço, o qual, como consequência, veio apropriar-se da grande maioria do eleitorado que até então confiava o seu voto no CDS.

Paulo Portas, na sua habitual homilia dominical na TVI, regozijou-se com os resultados obtidos pelos partidos da oposição na Polónia, saindo-se com o disparate de que pela primeira vez, na Europa, o centro-direita derrotou a extrema-direita.

Uma frase que carrega duas mentiras.

A primeira, é que o Partido da Lei e Justiça, que nos últimos anos tem governado a Polónia, não é de extrema-direita, apenas assim o é rotulado pelos seus opositores, principalmente pelo facto de ter impedido uma imigração descontrolada a partir das suas fronteiras, a qual está a deixar a ferro e fogo grande parte dos países europeus, e, atendendo à sua natureza social-cristã, ter inviabilizado várias causas fracturantes, como o aborto e o casamento homossexual.

A segunda mentira, é a de que os partidos que Portas identifica como sendo de centro-direita não derrotaram o ainda partido do governo, pelo contrário, foi este que saiu vencedor do escrutínio, apesar de ter falhado a maioria absoluta que detinha nas duas anteriores legislaturas.

Acontece que o derrotado Donald Tusk, que lidera uma coligação denominada Plataforma Cívica, de tendência liberal, e que ficou em segundo lugar, se propõe imitar Costa e Sanchez, fazendo uma geringonça à sua esquerda, ficando nas mãos dos socialistas, a quarta força política do país.

As promessas do eventual novo governo, as de abrir as fronteiras a quem quiser entrar e as de implementar as ideias apregoadas pela ideologia do género, não deixam quaisquer dúvidas quanto à sua índole liberal e libertária, longe, portanto, de qualquer programa defendido pela direita moderada.

Portas, recorde-se, foi quem pregou o primeiro prego no caixão em que o CDS agora se deita, ao esvaziá-lo da doutrina cristã que esteve na génese da sua fundação e fazendo-o derivar para um caminho demasiado liberal para aquelas que foram, desde sempre, as suas bases de apoio.

Agora, aspira a suceder a Marcelo no principal cadeirão de Belém, pelo que, muito convenientemente, se deixou dominar pelo discurso do politicamente correcto, embevecido pelos fracos políticos que dominam os governos ocidentais e acenando, a todo o momento, com o papão da extrema-direita.

Catarina Martins, vestida agora de comentadora política e aderente de um novo visual aloirado, o qual, no entanto, não lhe veio retirar o vazio de ideias que fervilha na sua cabeça, determinou, categoricamente, no canal que lhe mantém a visibilidade, que o Hamas é um movimento de extrema-direita!

Pois claro, uma organização terrorista que se entretém a chacinar crianças e mulheres só pode ser de extrema-direita!

A esquerda, essa, mesmo a mais radical, vive somente de virtudes!

E a direita, com raras e recentes excepções, com receio de ser rotulada de extremista, teima em não largar os seus complexos de esquerda, recusando-se a assumir as suas origens.

É este o Portugal de Abril, inundado de gente amedrontada com o que os outros pensam!