Com a sua demagogia habitual, na Cimeira Rússia-África que teve lugar em São Petersburgo, Vladimir Putin fez uma longa preleção sobre a necessidade urgente de lutar contra o neo-colonialismo do mundo ocidental.
Na última década, Putin usou abundantemente as suas milícias paramilitares, com particular ênfase o Grupo Wagner. Efgeni Prigozhine – o seu homem de mão até cair em desgraça por ter ousado afrontar o Kremlin, o que culminou na sua morte a 23 de Agosto – enchia os bolsos e a Rússia ampliava a sua influência geo-política.
África é um dos blocos regionais mais fortes e coesos à escala mundial, e a Rússia quer controlar o mais possível os 54 votos do Continente nos vários fora internacionais, em particular nas Nações Unidas. E, portanto, é em África que assistimos ao maior número de Golpes de Estado, na sua maioria preparados, instigados, materializados e depois sustentados pelo Grupo Wagner. O objetivo mais recente têm sido os países da francofonia, por a França ser o país que mais tem procurado manter estreitas relações com a África Ocidental e Central. Por isso, tornou-se o principal alvo de Moscovo – o que, diga-se, tem vindo a ser conseguido.
Com a morte de Prigozhine, o Grupo Wagner não desapareceu, nem mudou de ‘dono’ (que continua a ser o Kremlim), apenas trocou de ‘chefe’, para um que passou a ser bem mais fiel, obediente e menos ganancioso. E África mantém-se um elemento fundamental para a subsistência da organização, seja em termos de financiamento ou de branqueamento de capitais.
Mas, fora da esfera militar, quando não é necessária para derrubar um Governo, a Rússia continua a desiludir os seus potenciais parceiros africanos. É certo que, apesar da Guerra na Ucrânia, em 2022 Moscovo ultrapassou Pequim como principal fornecedor de armas a África. Mas pouco se importou com os povos africanos ao boicotar a exportação de cereais, seus ou da Ucrânia!
Tradicionalmente, mesmo fora do esforço de guerra, a Rússia não fornece ajuda humanitária a África, não fornece ajuda ao desenvolvimento. Em duas palavras: não investe! De África apenas lhe interessa poder importar os recursos naturais africanos e contar com parceiros políticos que respaldem as suas aventuras.
A Rússia representa menos de 1% do investimento direto estrangeiro em África. Uma verba irrisória para o papel que quer desempenhar na cena internacional! E Putin crítica o neo-colonialismo! Mas os líderes e os povos de África estão cada vez mais atentos e conscientes de quem é o novo colonizador.