Pedro Nuno quer listas únicas mas Carneiro quer garantias para aceitar

As conversas entre os dois já começaram e todos querem que haja acordo, mas do lado de Carneiro teme-se um programa eleitoral inspirado nos ideólogos da ‘geringonça’. O tema vai fazer parte das negociações.

A uma semana do Congresso do PS, Pedro Nuno Santos iniciou na sexta-feira os contactos com o seu adversário nas eleições diretas para que a reunião magna dos socialistas dê um sinal de unidade do partido. O objetivo, como referiu esta semana em entrevista à SIC, é formar listas conjuntas com o ainda ministro da Administração Interna, que, apesar de derrotado nas eleições, conseguiu obter quase 38% dos votos dos socialistas.

Ao Nascer do SOL várias fontes ligadas à candidatura de José Luís Carneiro disseram que  a posição de partida é de abertura a consensos. Mas, depois de terem conseguido mais de um terço dos votos dos militantes inscritos, os apoiantes de José Luís Carneiro avisam que um entendimento tem que passar por condições, caso contrário estar-se-ia a desperdiçar um resultado que foi muito significativo: «Foi o maior resultado dos segundos classificados em eleições internas. É um segundo lugar com peso e com apoios de peso como Fernando Medina, Augusto Santos Silva ou Joaquim Barreto, que vão querer ter uma palavra a dizer».

Entre os apoiantes ouvidos pelo nosso jornal é unânime a opinião de que, à beira de eleições, há todo o interesse em procurar entendimentos e listas únicas, mas esse é um caminho que deve ser trilhado com cedências de parte a parte. «Não é toma lá e assina por baixo, vai haver discussão, mas discussão civilizada», ouviu o Nascer do SOL da boca de um dos apoiantes de Carneiro, que está confiante que «todos vão ser crescidos para não andar com zangas».

Acordo programático e

lugares nos orgãos do partido

Nas conversas entre Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, que hoje têm início, há dois temas que preocupam o candidato derrotado: como vai ficar o programa eleitoral em matérias sensíveis como a utilização da folga orçamental (o chamado fundo Medina), políticas de habitação, questões europeias e de política internacional; e, ainda, qual vai ser a representação nos orgãos dirigentes do partido.

Na conversa que hoje terá lugar, Pedro Nuno Santos quer avaliar as condições de aproximação entre os dois candidatos e qual o método que deverá ser adotado para, nos próximos dias, se obter um acordo, que deverá estar fechado até à próxima sexta-feira, data do início do Congresso.

A partir de amanhã, uma equipa composta por representantes dos dois lados deverá limar arestas e obter um consenso. Nomes como os de Fernando Medina, André Moz Caldas ou Eurico Brilhante Dias deverão participar nas conversas que vão tentar fazer a ponte entre Santos e Carneiro.

Influência do fórum da

‘geringonça’ preocupa Carneiro

A influência da recém formada associação cívica ‘Causa Pública’ na elaboração da moção com que Pedro Nuno Santos se apresentou a votos no PS e a possibilidade de o mesmo voltar a acontecer na elaboração do programa com que os socialistas se vão apresentar às eleições de 10 de março é um dos principais focos de preocupação dos apoiantes de José Luís Carneiro.

O ‘Causa Pública’ é um recém nascido think tank (iniciou funções em outubro deste ano) e apresenta-se como  um fórum de discussão de políticas públicas de esquerda. A organização é liderada pelo ex-ministro socialista Paulo Pedroso e reune personalidades próximas ou militantes do PS, BE, PCP e Livre. No manifesto da ‘Causa Pública’ pode ler-se que «é uma associação de cidadãs e cidadãos empenhados na construção de novos caminhos para Portugal a partir de diferentes perspetivas da esquerda portuguesa».

Alexandra Leitão, que teve a seu cargo a elaboração da moção e que agora vai coordenar o programa eleitoral, é membro da direção da ‘Causa Pública’ e, ao que nos dizem, foi buscar inspiração às reflexões deste think thank para a elaboração do documento que serviu de suporte programático a Pedro Nuno Santos nas eleições internas.

Nas negociações que hoje se iniciam, uma das principais preocupações dos socialistas que apoiaram Carneiro, é que este organismo, «que é uma espécie de reserva intelectual da geringonça», sirva de inspiração do programa , se assim for, dizem-nos, «é difícil que todos defendam o mesmo em campanha» e isso dificulta um acordo entre Pedro Nuno e Carneiro.

raquel.abecasis@nascerdosol.pt