Repetindo a cartilha ao longo do congresso, de que Costa não é responsável por se ter demitido, os socialistas não só prolongaram a sua sombra durante o fim de semana, como o nomearam irresponsável por tudo e por todos. Ora é injusto, o senhor Costa é responsável senão por tudo o mais, pelo menos pelas suas mágoas.
O homem ficou magoado, ele disse-o, “estou magoado”. E eu senti-o.
Então a Gago, Lucília de nome próprio, foi nomeada à testa da PGR por ele próprio.
O Marcelo foi reeleito PR, com o seu implícito apoio dado a ausência de candidato do PS, nessas eleições. Apesar de sabermos que ganharia de qualquer forma, o Costa ainda assim, evitou uma pesada derrota a um hipotético oficial candidato socialista.
Não escutei ninguém referir o final daquele curto filme exibido na FIL, quando António Costa subiu ao palco discursar: ele de costas, onde se lia a palavra obrigado. Não era uma foto do Costa de frente, mas de costas, se o próprio não entendeu, a nova direção do PS quer mesmo vê-lo de costas.
Convenhamos que é triste para António Costa, e compreendamos que é natural que se sinta magoado, porque “a vida política, por vezes costa”.
Enfim, deixemo-nos dos melodramas da corte portuguesa, onde os filhos substituem os pais tanto nas funções públicas, como nas partidárias. São os filhos do Gomes Cravinho, do Vieira da Silva, do Soares, do Costa, do César, mais as esposas, uma roda-viva de irmãs, genros e de sobrinhos nomeados (sogras, é que nunca), aquilo não é um partido, é um viveiro de gambas cor-de-rosa.
No entanto não se fica pelo PS, infelizmente é um estranho espírito republicano o nosso, onde alguns apelidos se perpetuam na política há séculos, levando alguém a observar ainda há bem poucos anos, “o Conselho de ministros parecia uma ceia de Natal” (dixit Rui Rio).
A propósito de gambas, o Galamba desaparecido do congresso reaparece agora a negar, mas segundo a Procuradoria seria ele quem estará na génese da tramoia da tal lei malandra para a empresa em Sines, agrilhoando o assessor e o chefe de gabinete do Costa, onde quase cem mil euros em dinheiro vivo foi descoberto escondido na residência oficial do primeiro-ministro, no escritório paredes meias ao gabinete do mesmo. Só em Portugal e digno dos episódios de comédia televisiva, interpretados pelo saudoso ator Pedro Pinheiro na pele do polícia Costa. Percebe-se melhor, porque a semanalmente exigida demissão do ministro Galamba, era empurrada pela barriga de António Costa. Calhando, nem era uma teimosia com o Marcelo, como quis fazer parecer. Mas antes seria um rabo de palha que tinha com o imaturo ministro, a quem o ego sapava a responsabilidade. Quando eu me lembro dele pela manhã, de pijama e chinelos passeando o cãozinho da mulher para arrear a poia nas ruas lisboetas, sabendo que tinha toda a imprensa diante da sua porta a filmá-lo. Suplantou o mestre, nem José Sócrates se lembraria daquilo. Já alguém verificou os exames dos diplomas deste? Imagino que sim.
António Costa deixa inegavelmente um legado que ninguém menciona: o de 40 anos depois, vir descobrir a pólvora, ao repetir o feito do seu homologo socialista francês François Mitterrand, confecionando no parlamento o surgimento e sobretudo incremento de um partido declaradamente de extrema-direita. O objetivo é claro, o de exortar os diabos e perigos para a democracia apontando ao bicho papão, usufruindo esperança para si e para o partido socialista, ao procurar eleitoralmente diminuir os adversários da ala “conservadora democrática”. Dia 10 de março, veremos se resultou.
Hesito em decidir-me se António Costa tem estatura de estadista ou foi apenas um vislumbre. O futuro dele o dirá, veremos nas eleições europeias se António Costa será o cabeça de lista, ou sucessivamente se o próximo presidente do Conselho Europeu, será ele próprio.
Tenho para mim, que Lucília Gago e Marcelo lhe terão feito um favor no final de 2023. Se tudo isto foi orquestrado a pedido de António Costa ou não, cada um que decida pela sua cabeça nos futuros seis meses.
A realidade é que somente livre de cargos e de suspeitas judiciais, preferivelmente eleito para Estrasburgo, Costa lá poderá chegar. Aventurarão recordar-me o infeliz exemplo de cherne do Durão Barroso, sim, ao que eu retorquiria, mas os tempos e pessoas são outros.
Contudo lembram-se quando o Marcelo aceitou a demissão de Costa? Aquela singela excursão pedestre que o presidente da república fez nessa noite, seguido em direto pelas televisões? Onde? Ao palácio dos Távora, diante dos quais teceu umas palavras. Se esta família ficou conhecida na história de Portugal, é pelo, e cito: “O Processo dos Távoras, como ficou conhecido, ainda é um tema controverso e não se pode ter a certeza se realmente a alta nobreza fora culpada do atentado (ao rei). Contudo, uma coisa é clara: Sebastião José de Carvalho e Melo (primeiro-ministro à época) queria que fosse”. Isto, explicará aquilo que foi exaustivamente repetido no congresso do PS?
Quanto o “tacho” europeu, a história é igualmente jocosa. O atual presidente do conselho europeu Charles Michel (outro filho de um destacado antigo político), decidiu subitamente interromper o seu mandato, para segundo ele, poder concorrer a deputado europeu nas eleições de junho próximo. Coisa inexplicável e nunca vista, cuja compreensão poderia residir apenas no facto de ele ser belga. Ora a sua função não podendo ficar vaga até novembro, data em que normalmente terminaria o mandato, duvido que permitam a Viktor Orban, primeiro-ministro nacionalista húngaro vir a ocupá-lo, devido à Hungria assumir em julho a presidência semestral do dito conselho europeu, e tal como em vazios destes preveem os acordos.
Charles Michel abdicará das suas funções no dia 16 de julho, quando oficialmente serão admitidos todos os novos eurodeputados eleitos, pelo que António Costa estando livre, poderá assumir o seu ofício à frente do Conselho Europeu a partir desse dia. Seja ele eleito eurodeputado ou não, preterindo de exercer esse desígnio desde o início.
Dignos discípulos de Maquiavel, Marcelo e Costa, quem diria, quem dirá?