A Aliança Democrática ressuscitou para o agrado de muitos, para o desagrado de muitos mais, inclusive no PSD. Li e escutei trinta por uma linha sobre o assunto e surpreendi-me da virulência com que quase todos arriaram naquele, provavelmente o único que nunca se beneficiou, nunca foi eleito, nunca influenciou em nada a vida política portuguesa: o Gonçalo da Câmara Pereira.
É um homem simples, como os seus pais foram e são os seus irmãos. Bem, excetuando o Nuno que quer ser guei em vez do guei DêDê (Dom Duarte). Estou a brincar, na verdade até esse é um português simples, dando a cara e amigo dos seus amigos. Este Gonçalo que andou pelas bocas do mundo, é um pequeno agricultor para os lados de Elvas, viveu em Lisboa onde sempre cantou fados à séria quando havia tascas em Alfama e nas festas populares pelo Alentejo fora, quando o convidam. Vive como o povo, bebe como o povo porque nunca o vi ter vergonha de ser português, de dizer o que pensa ou nem por isso, mesmo que muitos pensem mal dele apenas porque sim, porque o Gonçalo é um tipo normal.
E talvez por isso para espanto meu, o mundo televisivo português troçou com a presença do Gonçalo, desde os jornalistas aos políticos, dos comentadores ao povinho entrevistado nas ruas. Do Chega ao BE ninguém soube conter uma graçola. Ao que eles acharam graça, eu acho triste. Aliás acho-os uns tristes. Porque o Gonçalo nem sequer é candidato a nada, desta vez. E poderia ter exigido isso. Ele apenas se prestou pela sua comparência e assinatura, a honrar o nome de outro Gonçalo. O arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles fundador do PPM, um homem honesto que trabalhou para em Portugal abrir o caminho, não ao guei, mas à ecologia.
A sua assinatura na constituição desta AD, serviu para unificar ali no palco as memórias dos três falecidos fundadores da outra AD. Que ninguém neste país tenha querido entender isso, é porque não sabem a diferença que há entre um carapau e uma sardinha. Ou como diria o Paulinho das feiras, “eles sabem, eles sabem”.
Esse saber e desdenhar, para escarnecer e diminuir o Gonçalo Câmara Pereira, é coisa medieval, tacanha e esclarecedora do Portugal do vigésimo primeiro século. O português fala, fala, mas tem o pavor de ver pessoas normais, como eles, na política e no parlamento: por inveja.
Tal como invejam quando vêm passar um Tesla na rua, preferem-lhe este pobríssimo desfile carnavalesco, de terem por entre os 230 deputados, cerca de 200 cabeçudos enfeitados em políticos. O Doutor e a doutora, o engenheiro e a arquiteta digerindo uma ex-república sem rei nem roque.
Há poucos dias numa escola secundária do norte de Portugal, um grupo de jovens dos 13 aos 16 anos violou um colega de 11 anos, com o cabo de uma vassoura. Funcionários terão visto, sem acorrerem. Uns polícias, hospital e juízes depois, os violadores continuam a frequentar a escola livremente, como se nada fosse.
Este e aquele, são o Portugal de hoje, no qual não me revejo.
Aquilo que os portugas têm dificuldade em reconhecer, é o lema da sua elite política, que raciocinam assim: Sempre tudo pelo povo! Sempre sempre ao lado do povo! Nunca no meio do povo!
Mas “eles sabem”…
Nota: a utilização neste breve texto da palavra guei, nada tem que ver com acordos ortográficos, nem com o hipotético portuguesismo provindo do inglês gay. Mas sim com uma popular anedota, onde guei significa rei, na boca de uma conhecida personalidade. Ao rei o que é de césar.