Não deveria ser, mas foi.
É triste quando os eleitos, cessam de se interessar pelos eleitores que os elegeram. É o que fazem, a esmagadora maioria deles. Não é de hoje, dirão em sua defesa alguns. Exatamente, e é por isso mesmo, que um dia, a gota de água extravasa. Uma gota, de um milhão de eleitores.
Em Portugal não existe esse bonito hábito, de os eleitos deverem ciclicamente regressar ao local que os elegeu, para verem, escutarem, debaterem com os seus eleitores, a fim de partilharem sobre aquilo que os preocupa, para dignamente os representar na Assembleia da República. Cá não, são eleitos e desaparecem.
Portugal é uma sociedade incapaz de sonhar, é um dia-a-dia desesperado, são décadas à deriva e sem rumo, é um carapau de rabo na boca.
Neste país não se fala de futuro, fala-se da construção de um aeroporto, de uma linha ferroviária, enquanto se constatam as graves falhas na saúde, na justiça, na habitação, na educação… Ó Costa, a vida “costa-nos” cada vez mais! Com esse teu ar de senhor com cabelos brancos, lunetas amarillas à moda dos londrinos, os sociólogos estudarão o teu caso, o teu flop que nem os socialistas entenderam.
Neste país não se fala de futuro, acusam-se os jovens de votarem no Chega, e de emigrarem em busca de uma vida melhor. Triste esquerda.
Triste cinquentenário este, que se preparam a comemorar. De cravos em mão, a dizer fascismo nunca mais, e a preparar-lhes a cama para que o fascismo regresse. Que os há por entre o Ventura, há, contudo, o André parece-me mais ser um Berlusconi à portuguesa, apesar de acreditar que se ele tivesse o dinheiro do italiano, se despediria da vida política.
Sobre a pretensa confusão, relembro que o ADN já tinha concorrido a eleições anteriores. A falha é da AD com tantos profissionais que têm, lançarem um logótipo a dizer AD, para depois no boletim de voto, decidirem colocar PPD/PSD/CDS etc (em vez de AD) e ali observarmos os diversos logótipos destes partidos (em vez daquele que inventaram e levaram nas bandeiras e cartazes, com a sigla AD). A sério? e são estes os iluminados que nos querem governar? Que triste direita.
Ilações:
1. O PSD não aprendeu a lição de 8 anos na oposição. Ganhou por um cabelo, e o exercício de arqueologia em trazer para a ribalta os velhos esqueletos, foi um erro quase mortal. Agora, governem-se. Se insistirem nessa receita, o PS regressa para mais uma década e o PSD esmifra-se, como o CDS: a única solução é um novo partido, AD ou seja o que for.
2. O Pedro Nuno Santos respira melhor, podendo finalmente, alienar o Costa e os seus habilidosos tacticistas. O PS perdeu, mas ele PNS, nem tanto. O aparelho socialista revela uma notável saúde, ligada aos inúmeros tachos distribuídos pelo país fora. E uma comunicação (quase) sem falhas.
3. O Ventura vive tempos felizes, conseguirá ele segurar a meia centena de deputados? Não creio, é gente de ideias fixas, e pouco habituada a disciplinas partidárias. As facas amolam-se.
4. O Rocha até foi assertivo, apesar daquele seu ar de Mr. Bean, que não o perdoa. O IL existindo, retirou uns 15 deputados à AD. O resto é conversa.
5. O efeito Mortágua, não resultou. O seu enervante sorriso Pepsodent, formatado para esta campanha, desapareceu na própria noite das eleições, regressando o acusador olhar estrábico, de dedo em riste. A Marianita afinal, não vale por duas.
6. O PCP (último europeu) afirma que resiste, graças ao sectarismo que os move, desaparecendo do Alentejo. Viva o 25 de Abril. Em coma induzido, veremos se nas próximas autárquicas, é confirmado. Duvido.
7. O Livre e o PAN continuam a estragar a vida à esquerda. As melancias em excesso, provocam dores de barriga.
8. Os evangelistas brasileiros da ADN, estiveram a um passo de eleger um deputado. Erro de siglas ou intervenção divina? Na primeira hipótese, fez a AD perder 3 ou 4 deputados. Na segunda, pergunto se ninguém viu os brasileiros naturalizados, a votar neles? Perguntar, não ofende, até acredito na primeira hipótese. Mas fica aqui o aviso.
9. Então ninguém saúda a diminuição da abstenção? Era de 49% e desceu para 33%, e nem vivalma para aplaudir? Tristes democratas, todos eles e elas. Ou será porque o voto dessa franja de eleitores, se reflete diretamente na subida do Chega? E ninguém o quer admitir? Há anos que aviso: quando a abstenção acordar…
10. A esquerda perdeu e merece-o. Porque andaram a brincar com tudo isto e com todos, nestes últimos oito anos. Dizem que vão fazer, o oposto daquilo que fizeram, sem pingo de vergonha na cara. Isso não é ser de esquerda, é brincar com quem trabalha, literalmente.
Quanto ao tio Marcelo dos afetos, que se transfigura de bobo da corte em Príncipe de Maquiavel e vice-versa no dia seguinte, vai querer segurar o governo AD até abandonar Belém. Acredito que o consiga, com arames e táticas à sua maneira. Mas cuidado, que os três líderes dos três maiores partidos, agora, são de uma outra geração, cuja escola está longe do 25 de Abril de 74. A coisa, não vai ser fácil. Para nós também não, mas vai ser mais divertido.