Pais versus escola

Os pais lidam com a escola como um bem de consumo. E quem compra quer resultados. Mas os resultados são uma relação cada vez mais tensa e de desconfiança entre pais e professores.

Fala-se do tempo serviço dos professores, de currículos, de avaliações internacionais, de insucesso escolar ou de telemóveis, mas quando se fala da escola pouco espaço se dedica à temática dos pais. E os pais são a variável mais instável deste universo estudantil. Nos programas de governo e eleitorais não há uma palavra sobre o que fazer com eles.

A verdade é que os pais destabilizam as escolas, seja porque querem saber demais, seja porque não põem lá os pés. Mas seja qual for a razão, a relação entre pais e escolas é tensa, distante e cada vez mais conflituosa. Vejo pais que se queixam de tudo: do livro recomendado que é difícil demais, dos trabalhos de casa em excesso, das notas baixas, das regras impostas sobre os telemóveis, da qualidade da comida, dos gritos dos professores ou das aulas de educação física à chuva. Por outro lado, também há pais que se queixam da falta de exigência dos professores, das notas inflacionadas, da tolerância de muitos professores, da falta de controlo dos telemóveis, da escassez de trabalhos de casa e da ausência de regras.

Tudo isto acaba invariavelmente nos grupos de pais, em reuniões onde se insultam professores e em discussões sobre casos concretos que se generalizam. Os pais querem e exigem mais do que as escolas e os professores podem dar e as escolas e os professores acantonam-se com medo que os pais lhes multipliquem os problemas.

No meio estão os filhos, os alunos, para quem a escola quer dizer cada vez menos como espaço onde têm de aprender, crescer e responder a exigências. A ideia é que não se deve responsabilizar os filhos por coisa alguma e os professores que o queiram fazer têm de se justificar aos pais. Basta um pai zangado para incendiar os ânimos e basta um grupo de WhatsApp de pais maldispostos para estragar uma turma.

A escola dá confiança a mais aos pais e os pais acreditam mais nas versões dos filhos do que nos professores. Os miúdos, por sua vez, percebem quando os pais estão contra a escola e é aí que a autoridade dos professores vai pelo ralo abaixo. E o respeito de ambos os lados é cada vez menos.

Os pais olham para a escola como um bem de consumo e quem compra um produto quer resultados: querem que o filho mude de turma por um critério só dele, exige que os atrasos possam ser injustificáveis, pedem uma atenção especial aos filhos e muitos pressionam para que se mudem os professores. Os professores, por outro lado, aconselham o encaminhamento dos alunos para acompanhamentos extracurriculares, reclamam e questionam a ausência ou os valores das famílias e consideram a maioria dos pais incompetentes e um obstáculo ao seu trabalho.

A escola, durante todos estes anos, foi cedendo e os pais foram exigindo cada vez mais. Uns exigem mais escola e os outros mais casa. Com tudo isto, a confiança entre ambos foi-se esbatendo e é cada vez menor. O resultado é que quando um filho percebe que os pais não confiam na escola, não se deixa educar e permanece como filho nas aulas. É preciso professores mais professores e pais mais pais.