Maria Vilar ainda estava no Instituto Superior Técnico quando começou a pensar em criar uma empresa dedicada à tecnologia imersiva – que junta realidade aumentada, realidade virtual e realidade mista. Formada em Engenheira Eletrotécnica fundou a Immersiv Studios e hoje com 27 anos dá cartas nesta área. É a representante portuguesa e membro da direção da Euromersive, associação europeia para esta tecnologia e recentemente foi convidada para ser uma das seis oradores na Global Startups Conference, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. Realizado em Toronto, no Canadá, reúne pioneiros e visionários para explorar as últimas tendências e avanços em diferentes setores nas tecnologias do futuro. À LUZ, Maria Vilar confessa que o caminho não podia ter sido outro, já que desde cedo tinha a ambição de seguir este percurso. «O interesse começou na altura em que estava no Técnico a desenvolver alguns projetos para clientes, mas sempre tive a ideia de criar a minha empresa», mas reconhece que passar à prática nem sempre é um caminho fácil.
«Sempre tive essa ideia, é claro que uma coisa é o que pensamos na teoria, mas depois o que acontece na prática é completamente diferente. Após apresentar a minha tese demorei seis meses a abrir a minha empresa e posso dizer que foram os seis meses mais longos da minha vida, no entanto, sempre achei que ia criar alguma coisa minha e a vontade de criar era muito maior do que o medo de arriscar. Os meus pais, na altura, tinham imenso medo e questionavam se fazia sentido abrir a empresa, mas nunca tive esse receio porque na minha cabeça as coisas iam acontecer quando tivessem de acontecer e preferia estar um ano a criar alguma coisa, mesmo que não ganhasse muito dinheiro do que estar a fazer o caminho mais óbvio que era ir para as empresas que todos os meus colegas iam». E não hesita: «Esse era o meu maior medo, ter um horário das 9h às 17h».
Como tudo começou
Os primeiros passos foram dados quando ainda estava na universidade e trabalhava como freelancer. Até criar a sua empresa foi um passo, apesar de ser das poucas mulheres ligada ao seu curso. «Sempre tive este mindset de engenheira e esta ideia de criar, de ver os projetos a acontecer, daí nunca ter conseguido seguir a carreira de investigadora, porque quando estava no Técnico tive uma bolsa de investigação e não me entusiasmava». Um cenário que mudou quando criou a empresa, arrancou com os seus projetos e passou a ter clientes. «A partir daí, senti que aplicava tudo o que sabia e ter uma aplicação real em relação à nossa formação é muito importante».
Atualmente já conta com vários projetos desenvolvidos e outros em carteira. Um deles diz respeito a uma solução de treino para agricultura de precisão, o qual reconhece que representou um verdadeiro desafio. «A minha equipa teve de estudar tudo o que o cliente fazia para oferecermos uma solução em realidade virtual. Foi um dos projetos mais difíceis, mas todas as soluções que são feitas para a ativação de marca são complexas no sentido em que os timings são muito apertados», salienta. Já para a última edição do Rock in Rio desenvolveu para o Ibis um jogo de realidade virtual. «São sempre projetos desafiantes porque temos de antecipar e preparar tudo o que pode acontecer no dia, porque uma coisa é o software que desenvolvemos, outra coisa é como as pessoas podem usar e no caso do Rock in Rio estamos a falar de milhares de pessoas que estavam a jogar neste evento», acrescenta.
Em mãos tem o desenvolvimento de vários projetos, um em realidade virtual, outro em realidade aumentada, focado nas empresas que podem usá-lo através de uma subscrição.
O futuro
Para Maria Vilar, o futuro passa pela tecnologia imersiva e à LUZ explica o porquê. «Tudo o que vamos experienciar no futuro vai ter esta componente imersiva, em que a parte digital vai-se confundir com a parte real, em tudo o que são áreas importantes na nossa vida, desde a saúde, à educação ou, até mesmo, ao entretenimento». E exemplifica: «No caso das marcas não estamos a fazer apenas um anúncio, mas a fazer parte do historial. No caso da realidade virtual estou a experienciar a marca em tempo real. No entanto, ao ser imersivo podemos provocar emoções nas pessoas e sentir as coisas como se fossem reais».
Quanto ao facto de estar presente em conferências internacionais e ser a representante portuguesa de uma associação desta área, a empreendedora admite que já é um reconhecimento do trabalho feito até agora. «As pessoas sabem que sou uma mulher na tecnologia e engenheira numa área muito específica e querem saber a perspetiva feminina nestas matérias, mas cada vez mais veem-me como especialista em tecnologias imersivas». No entanto, lembra que ao estar a assumir um papel que a maior parte das mulheres não representa é uma responsabilidade acrescida: «veem-me como uma referência e como alguém que vai atrás das coisas».