Há uma odiosa campanha em curso contra o otimismo. O otimismo vive uma crise profunda e passou de moda assim como o Facebook e o Macron. Não é cool ser otimista. Ter os pés bem assentes na terra, olhar o mundo com realismo, preparar-nos para o que aí vem, são as novas máximas e clichés. Um maluquinho que esteja convicto de que a Humanidade tem futuro, ou pelo menos algumas centenas de anos de existência, não passa disso mesmo: de um maluquinho. E a realidade em que devemos acreditar é que mais tarde ou mais cedo vamos ter todos uma depressão, que os nossos filhos vão para a guerra e que a inteligência artificial vai acabar a liderar o universo escravizando os homens e dominando os seus pensamentos e emoções. As distopias venceram o mundo da Disney: o Bambi também morreu. Isto deixa-nos sem opções e recomenda que devemos viver e comer como se não houvesse amanhã. Até porque o Trump vai garantir a não existência de um amanhã.
O otimismo passa por ter fé. E não é esquisito com o tipo de fé. Pelo contrário: é o substantivo mais ecuménico de todos. Aceita uma fé qualquer, desde uma fezada, à fé católica ou ao hinduísmo. Só tem de se acreditar que as coisas vão correr bem apesar de estarem a correr mal. Vou acabar no Céu, reencarnar numa casta superior ou apenas ter sorte aos amores e ao jogo: tudo coisas opinas. É como os veraneantes do Oeste quando acordam envoltos em nevoeiro e acreditam até às 5 da tarde que isto ainda vai levantar. Contra todas as evidências, não despem o fato de banho.
O otimismo é a máxima dos alegres. Um otimista pode ser pateta, mas é mais feliz do que um realista. A lei de Murphy para um otimista é uma parvoíce incompreensível. Claro que as coisas vão correr bem apesar de poderem correr mal, e se, eventualmente, correrem mal é só porque ainda não começaram a correr bem. Regista-se apenas um ligeiro atraso. Um otimista faz poupanças por preguiça e não por achar que tem de acumular riqueza para estar preparado para uma eventual crise no futuro. No futuro, as poupanças vão servir para uma viagem à volta do mundo assim como o prémio do Euromilhões.
É ótimo ser otimista: estamos sempre otimamente. Se o presente está a correr mal é porque amanhã vai correr bem e se o presente está a correr bem, ótimo. Não há crises, apenas percalços. Ou seja, esporádicas e irrelevantes interrupções de felicidade e de bem estar.
Mas o mundo de hoje não tolera os otimistas. Os otimistas são considerados inconscientes e irresponsáveis, crianças mesmo. É suposto estarmos todos preocupados, desconfiados, apreensivos, aterrorizados. E quem não está assim, é um peso para os realistas e para os pessimistas que têm de se preocupar em dobro: com eles e com os otimistas. O otimismo é aquilo que leva os nossos filhos a não se preocuparem com as más notas porque para o ano vai correr melhor, a não serem hipocondríacos porque acreditam em imortalidade e em acharem que as entrevistas de emprego que correm mal são apenas isso e não uma validação da sua indigência. É aquilo que faz com que as pessoas não tenham medo de ter filhos, de tirar os cursos que gostam apesar das taxas de empregabilidade, de consolidarem amizades sem medo de traições. É preciso encher o mundo de otimistas irresponsáveis para que ele não pare de girar.