O regresso a casa dos pais ou a casa dos filos

O dinheiro não chega para tudo e a saúde por vezes também não ajuda. Os casos de filhos que voltam para casa dos pais ou de pais que têm que ir viver com os filhos são muitos. Contamos-lhe algumas destas histórias.

Vivemos tempos difíceis com um custo de vida acima daquele que se pode pagar com muitos dos salários atuais. Tradicionalmente – as prioridades de cada um vão mudando e não é sempre assim –, os filhos crescem em casa dos pais e ganham asas mais tarde. Cada vez mais tarde no nosso país. Já os pais, continuam com a sua vida, na sua casa e, se for preciso e houver dinheiro para isso, vão para um lar. Dinheiro. Uma das palavras de ordem nos casos que contamos agora.

Sofia veio viver para Lisboa onde conseguiu concretizar o sonho de ser enfermeira. Mas sonhos não pagam dívidas. Poucos anos depois percebeu que, sozinha, não conseguia sustentar-se na capital. “Depois de muito pensar, a solução foi voltar para casa dos meus pais, em Bragança”, conta. “Não era o que queria e é horrível voltar para casa dos pais depois de já se ter passado por um momento de independência mas sozinha, na capital, é impossível”, lamenta a jovem de 32 anos.

O mesmo problema teve Ricardo, mas ao contrário. Os pais já não conseguiam viver sozinhos por questões de saúde e pagar um lar para os dois era impossível. “Ficava caríssimo colocar os dois num lar e sei que também não era o que queriam”. Apesar de fazer na mesma um esforço financeiro e ajustes em casa, o ‘estrago’ ao final do mês nas contas da família não é tão grande. “Apenas tive que abdicar do escritório para fazer um quarto para eles. São independentes, felizmente, só precisam de ser vigiados e ter a certeza que tomam a medicação certa”. O i questionou Ricardo se esta foi uma opção de todos. “Foi tomada em conjunto ainda que fosse muito difícil para eles ao início aceitar que tivessem que depender de um filho. O meu irmão também ajuda mas a minha casa é maior e decidimos que ficam aqui”.

No caso de Pedro, não foi falta de dinheiro. Depois de ter ficado viúvo precocemente, a saúde dos pais não era a melhor, principalmente da mãe. Ao invés de estar a pagar uma renda sozinho, Pedro – que não tem filhos a seu cuidado – decidiu regressar a casa dos pais, juntando um dois em um: poupa dinheiro e conseguia estar mais presente na vida dos pais. O caso tornou-se ainda mais urgente depois do falecimento da mãe. Com o pai sozinho, Pedro não teve mesmo dúvidas que esta seria a melhor opção e não se arrepende, conta.

José vivia na aldeia, no norte do país, quando a mulher morreu. Com os filhos a viverem na capital, ficou sozinho. Ainda que tivesse várias visitas por ano, não era a mesma coisa. A certo ponto, uma das filhas defendeu que não queria mais o pai a viver sozinho mas colocá-lo num lar nunca foi opção. “Não foi fácil trazê-lo para Lisboa porque, a partir de certa idade, são muito independentes e acham que conseguem fazer a vida deles toda sozinhos, mas não conseguem”, diz ao nosso jornal. Ainda que não tivesse qualquer problema de saúde grave, a idade de José ia avançando e lá aceitou morar em Lisboa, em casa da filha. Com o tempo, os problemas de saúde agravaram-se. “Acabou por gostar de estar aqui e foi uma grande ajuda na educação das minhas filhas. Mas depois teve que amputar uma perna e foi mais difícil a adaptação. Para nós e para ele. Mas ele tinha uma grande força de vontade e isso foi também uma grande ajuda para todos”. José já não é vivo mas a filha não tem dúvidas: “Trazê-lo para minha casa, onde esteve tantos anos – ainda que mais para o fim tenha partilhado essa responsabilidade com os meus irmãos – foi a melhor opção, faria tudo de novo. Porque tenho a certeza que se tivesse ficado num lar, longe da família, por muito bem tratado que fosse, não teria sido tão feliz”, conclui.

Por último deixamos uma história não tão feliz. Rosa tem um filho que sempre foi dependente e teve uma vida normal mas, com o divórcio, entregou-se à droga e ao álcool. “Tentámos de tudo para que pudesse ter uma vida normal e feliz. Os divórcios são uma coisa normal mas o meu filho não aceitou bem”. A única solução, ainda que a muito custo, foi que o filho voltasse para sua casa. “Fez reabilitação e está bem melhor mas, enquanto puder, quero tê-lo aqui comigo porque aqui tenho a certeza que está bem”, conta ao nosso jornal.

José Manuel tem uma história ainda menos convencional. O pai, que apesar de praticamente autónomo já não pode viver sozinho, mora com a irmã. No entanto, a irmã está de férias. Explica que, para que o pai não mude o seu ambiente diário, José Manuel mudou-se durante umas semanas para casa da irmã. Assim, o pai não está sozinho e não altera as suas rotinas.