Imaginar que, num sistema capitalista, as pessoas constituem empresas para fazer responsabilidade social é não compreender o mínimo do que é o funcionamento do sistema. Pensar que, na sociedade de informação atual, é aceitável que uma empresa (com alguma dimensão) projete a sua imagem como entidade meramente predadora, sem sensibilidade ao meio, é não entender o mundo contemporâneo.
A responsabilidade social das empresas não é o objetivo inicial da sua atividade, mas é um meio, na sua dimensão externa, sobretudo comunicacional, para construção da sua imagem/reputação. Na dimensão interna, esta atividade serve para envolvimento dos seus trabalhadores, na construção e motivação das equipas.
Mas esta dimensão das empresas tem uma enorme vantagem: faz o bem.
O Município de Oeiras tem, desde há 20 anos, um programa de responsabilidade social das empresas. Inicialmente designado de ‘Oeiras solidária’, foi objeto de um ‘rebranding’ por ocasião deste aniversário, tendo passado a designar-se de ‘Oeiras Community Valley’ (OCV).
O programa nasceu a partir do tecido empresarial sofisticado que se foi construindo no território do Concelho, constituído sobretudo por multinacionais, com elevado impacto económico e empresarial no país.
O seu crescimento progressivo, atualmente com cerca de 100 parceiros, acompanhou o desenvolvimento empresarial de Oeiras. O seu êxito, e o impacto nos parceiros, bem como na comunidade (e território), tem sido a sua melhor publicidade.
Na semana passada, por exemplo, houve um evento que diz muito do que um programa como este pode fazer e como a atuação em rede traz tantos resultados positivos. Numa iniciativa que envolveu 20 dos parceiros do OCV, foi entregue material escolar para crianças desfavorecidas do ensino básico. No total, são mais de 500 as crianças abrangidas na iniciativa.
Claro está que um Município como Oeiras já faz tudo o que está ao seu alcance para permitir que a igualdade de oportunidades seja uma realidade para as crianças e os jovens do Concelho. Não obstante, o envolvimento do setor empresarial na vida comunitária, com vista ao bem-estar geral, é um passo em frente no nosso modelo de desenvolvimento.
A responsabilidade social necessita de sofisticação empresarial e de sensibilidade para com os problemas das pessoas e do mundo. Poucos territórios conjugam esta circunstância em Portugal, como Oeiras, quer pelos índices de desenvolvimento económico, quer pelas preocupações sociais que vêm com os elevados níveis de formação (os mais elevados do país).
Não obstante o contexto territorial, é possível replicar o modelo de envolvimento das empresas na vida comunitária, sensibilizando empresários, chamando a sua atenção para as mais valias deste tipo de atividade. Isso implica, naturalmente, entender o poder local como algo mais do que o tratador do espaço público e licenciador de atividade privada.
O Município pode e deve ser entendido como o nível de governo local de toda a comunidade, muito para além das obras físicas, a obra principal é a que perdura no íntimo das pessoas – como se contribui para o seu desenvolvimento individual ou como estas se tornam melhores cidadãos e se assumem os agentes de mudança do território.
Num país de “pequenas quintas”, com dificuldades de cooperação, passar a agir em rede pode significar muito. Mais do que recursos, a construção de redes exige inteligência e imaginação. Do pouco, em rede se faz muito.