Investimentos. Jovens aderem a criptomedas mas mercado de ações continua a ter maior peso

Apesar do elevado nível de risco, o mercado de criptomoedas continua a ganhar terreno principalmente junto dos investidores mais novos, mas investimento exige cuidados redobrados. Aposta em bolsa e em depósitos a prazo mantém-se.

Apesar de o conflito no Médio Oriente e a proximidade das eleições nos Estados Unidos poderem vir a contribuir para a desvalorização das criptomoedas, em que o Bitcoin é a estrela deste investimento virtual, continua a ser visto atrativo para muitos investidores. Ao i, Tiago Martins, especialista em assuntos financeiros da Deco Proteste admite que “apesar das atuais tensões geopolíticas, da guerra comercial e tecnológica latente entre China e Estados Unidos, dos receios em relação à evolução do crescimento económico em algumas regiões do mundo, nomeadamente na Europa e na China, os mercados financeiros vivem um momento muito positivo”, referindo que “muitas bolsas estão em máximos históricos”. O mesmo cenário repete-se nos mercados obrigacionistas, “depois de um ano negro em 2022 estão em alta, o ouro tem fixado sucessivos máximos históricos e a cotação das maiores criptomoedas também tem subido”.

 E explica este comportamento: “Para este cenário têm contribuído o bom controlo da inflação, o facto das economias terem acomodado relativamente bem a subida das taxas de juro e, nos últimos meses, a perspetiva de descida dos juros tem beneficiado de maneira diferente as várias classes de ativos, até porque torna-os comparativamente mais atrativos, dada a descida de rendimento dos produtos sem risco. Esta tendência tem beneficiado também as criptomoedas”.

Também Eduardo Silva, diretor da XTB Portugal, chama a atenção para o facto de o mercado dos investimentos ser bastante vasto, visto que existem muitos tipos de investimentos. E dá exemplos: “Podemos investir em empresas por via das ações, financiar outras pela via das obrigações, assim como podemos emprestar o nosso capital aos países por forma de dívida pública ou mesmo investir em matérias-primas como o ouro ou o cacau. Recentemente, temos a possibilidade de investir em criptomoedas”. 

 De acordo com o responsável, cada um deve investir naquilo que se sente mais confortável, com o grau de conhecimento e com o nível de risco ajustado ao potencial retorno. “Num mercado como um todo, os investimentos nos mercados financeiros têm-se mostrado muito atrativos e vemos que o interesse da população tem vindo a crescer gradualmente, nota-se que as pessoas estão cada vez mais interessadas em aprender e investir”. 

Ameaça outros investimentos?  

Tiago Martins afirma que, apesar desta aposta que têm vindo a ser feita em criptomoedas admite que não está a “ameaçar” os investimentos tradicionais, nomeadamente o mercado bolsita. “Apesar do mercado cripto ter ganho importância, a grande fatia do investimento continua a ser direcionado para os mercados de ações/obrigações, seja por via do investimento direto nesses ativos, seja através de instrumentos de investimento coletivo, como os fundos e os ETF Exchange-traded Funds são fundos de investimento abertos, admitidos à negociação numa bolsa de valores]”, acrescentando que muitos dos índices bolsistas mundiais estão perto dos máximos históricos.

O mesmo acontece em relação aos depósitos a prazo e o responsável adiante que as características são completamente diferentes. Um deles diz respeito ao risco, em que num depósito o risco é praticamente inexistente até 100 mil euros, por cliente titular, dado estar protegido pelo Fundo de Garantia de Depósitos (em Portugal e União Europeia). Realidade contrária verifica-se nas criptomoedas: “O risco é elevadíssimo”.

 Uma opinião partilhada por Eduardo Silva. “Não acho que esteja a ameaçar os investimentos tradicionais, o facto de aparecerem outros mercados proporciona uma gama mais vasta de investidores aos mercados financeiros. Sendo que muitos deles até começam com criptomoedas e acabam a fazer investimentos nos mercados tradicionais”, diz ao nosso jornal.

E também concorda que o investimento em criptomoedas vá substituir os depósitos a prazo, pelo menos, num cenário a curto-prazo. “Os bancos precisam de se financiar e os depósitos são o método mais barato para tal. Ainda assim, notamos que os ETFs têm sido um método cada vez mais utilizado pelos nossos clientes como forma de investir a longo prazo, para alguns é mesmo um substituto direto dos depósitos a prazo ou PPR [Plano Poupança Reforma]”, salienta.

Novas gerações são alvo

O especialista em assuntos financeiros da Deco Proteste reconhece, no entanto, que apesar dos poucos estudos que existem em relação ao perfil do investidor admite que são os mais jovens quem mais investe em criptomoedas, nomeadamente a faixa etária dos 18-40. 

 “Há duas razões principais para isso, o facto dos mais jovens estarem mais abertos e otimistas perante esta nova tecnologia, e a elevada volatilidade e caráter especulativo dos criptoativos. Essas características não são adequadas para quem está já reformado ou perto disso. Nessa altura, a prioridade deve ser a preservação de capital”.

Também o diretor da XTB Portugal refere que são as gerações mais novas a mostrarem-se mais abertas para este tipo de investimentos, mas não só. Cada vez mais vemos outras faixas etárias a recorrer a este tipo de investimentos”.

Risco alto

Para Tiago Martins não há margem para dúvidas, as criptomoedas apresentam um elevado nível de risco. “Não todas, é certo, mas podem vir a ganhar terreno como alternativa ao sistema financeiro tradicional. A facilidade de acesso, rapidez nas transações e custos reduzidos são os seus atributos. Estes benefícios, porém, não estão isentos de significativos desafios”.

E acrescenta: “A natureza descentralizada das criptomoedas e a ausência de regulamentação e transparência podem expor vulnerabilidades de segurança, tais como fraudes, roubos e ciberataques”, afirmando que “para já, as criptomoedas constituem, sobretudo, uma forma de investimento especulativo”. E a explicação é simples: “As criptomoedas não têm valor intrínseco e não estão associadas a empresas que geram lucros, nem a estados que coletam impostos. Portanto, o seu valor não é suportado por nada mais que a perceção de valor que as pessoas lhe atribuem. Se essa perceção for comprometida por algum motivo, o valor pode cair a pique”.

O responsável diz ainda que as plataformas que permitem a transação de criptoativos não estão a salvo de hackers. “Cada vez mais frequentes, os ataques de phishing podem levar à partilha inadvertida de informações sensíveis, comprometendo a segurança das contas”, referindo ainda que “os problemas das plataformas não se resumem, no entanto, à usurpação de fundos ou de dados pessoais. Eventuais complicações técnicas podem levar ao seu mau funcionamento, impedindo o acesso dos utilizadores às suas contas ou a realização de transações no momento desejado”. 

E acrescenta que a falta de regulamentação adequada também pode resultar em menos proteção legal para os utilizadores em caso de disputas ou problemas com a plataforma. Outro risco a considerar é o colapso da plataforma. “Há sempre a possibilidade de enfrentar dificuldades financeiras. Em caso de falência, tratando-se de plataformas registadas, os utilizadores podem, em condições normais, trocar os seus criptoativos por moeda fiduciária ou transferi-los para outra plataforma. Os direitos dos investidores estão salvaguardados, pois os ativos que adquirem são seus, e não da plataforma que usam”, afirma. 

 E, como tal, ao nosso jornal refere que não aconselha este tipo de investimento. Anda assim, refere que, “se a pessoa assim decidir deve aplicar apenas uma pequena parte da sua carteira de investimentos – máximo de 5%– e garantir que o intermediário que escolhe é fidedigno”, acrescentando que “neste aspeto, todo o cuidado é pouco”.

Opinião contrária tem Eduardo Silva ao chamar a atenção para o facto de todos os investimentos envolverem riscos. “Temos que ter noção dos riscos antes de começar a investir. Se tivermos uma noção real do risco, conseguiremos mitigar grande parte dele e os nossos investimentos estarão em linha com o risco/recompensa, ou seja, o quanto capital é arriscado para o potencial ganho que probabilisticamente está do nosso lado”.

E para quem está a pensar em investir neste mercado, o analista da XTB  aconselharia ao investidor, em primeiro lugar, perceber qual o grau de risco que está disposto a acarretar, de seguida estudar os ativos que mais se encaixam nessas medidas.