Basta um poema para uma revolução e sempre foi assim desde os primórdios da humanidade. Não existe uma revolta sem poesia nem sedição sem amor, porque a liberdade é o destino do ser humano e a sua permanente exclamação.
Neste mundo impregnado de incertezas e de conflitos, cada vez mais manietado pela desinformação, com divisionismos e regimes, assim como sociedades, mergulhadas no autoritarismo em todos os continentes, desde a Ásia às Américas, passando por África até aos diversos exemplos na própria Europa, persiste uma incoerência gritante em subestimar os valores humanos e sociais, os princípios de igualdade e de inclusão, tomando por certa a argumentação apresentada por líderes absolutistas em detrimento da realidade onde vivemos.
Assusta muito aquilo em que nos tornámos, onde as bases essenciais da Educação, da Cultura e de uma existência sustentável cedem facilmente à economia e aos discursos protoextremistas. A ameaça é real e profunda, e o ódio que alguns propagam, tal como o medo que espalham, não é natural e muito menos saudável ou admissível. Quem alimentou estes monstros deve estar bem arrependido, conseguindo castigar gerações pela sua imprudência, e quem os instigou terá rapidamente de retirar a força que aparentam.
Bem sabemos que já sucedeu durante séculos, porém, chegados ao momento em que as pessoas adormecem nos seus corpos e se refugiam neles, onde aprendem a dor sem fim e se tornam vítimas de credos num chão de pavor, quando ficam sós e desprotegidas, a tremer à luz do sol, é precisamente nessas alturas que deve surgir uma reação humana, sem traições à sua natureza. Se cada silêncio tem uma consequência, cada palavra também.
Tal como não se repetem, as histórias comuns não se separam. Apenas podem rimar, mas, para isso, a solidez das instituições necessita de corresponder e de atuar, sem quaisquer hesitações.
No caso português, a herança africana, espalhada pelo valoroso espaço luso e ibero-americano, imersa numa milenar tradição de cultura transversal que tem por pilar a lusofonia, terá de demonstrar, novamente, a sua valentia e a sua identidade. Por mais que se diga o contrário, a verdade é só uma e os brandos costumes não podem ter ficado escondidos num suposto submundo racista e revoltado durante tantos anos.
É nesta raiva natural de amar que a sociedade portuguesa aguarda pela resposta cabal dos seus eleitos, porque, tal como o poema demora o seu tempo, quem luta a favor da esperança nunca cede.
Nas épocas mais desafiantes, compete-nos escrever o silêncio dos outros, desmascarando falsidades e punindo severamente quem prevarica, quem semeia a desumanização e quem recorre ao radicalismo para desunir uma comunidade. Nada irrita mais um fascista do que o conhecimento e quem fomenta a divisão não pode beneficiar de impunidade.